28 de jan. de 2007

passion

Na Grécia antiga, quando um homem morria, apenas se perguntava:

Ele viveu com paixão?

Morto, sua vida e história irá responder. Mas ainda vivo, é preciso respondê-la cada dia.
Eu vivi hoje com paixão?

23 de jan. de 2007

ani versário

Eu estou velho.
Igual aquela vez em que entrei no parquinho e a moça gorda falou: "Só pode criança pequena nesse balanço". Nunca me senti tão velho, nunca senti tanto peso. Minha infância nunca mais foi a mesma, eu nunca mais fui o mesmo. E cheguei até aqui, velho.
Meio velho, mas menino.

p.s: Tom Zé diria "o amor é velho, velho e...menina". Aliás, meu companheiro aquariano, São Paulo fará aniversário quinta. Parabéns a nós.

22 de jan. de 2007

Senhor do Bomfim com presságios de Xangô

E é aqui neste meu pequeno altar emancipado que celebro quase sem forças uma antiga reza para o deus que nunca veio, o santo que nunca soube, orixá que desarmou-se. Entre todos esses amores, relíquias bagunçadas, lembranças de um tempo quase sagrado, não fossem tão profanos meus desejos. E mesmo quando falta a promessa, uma fitinha cor-de-rosa, uma prece vazia, é nesta oração da dor que ainda percebo o quanto estou vivo e sou o resto de tudo que amei. É com o que ficou, demônios de mim, pelos olhares dos amores que passaram. O que permanece, angústia de não poder ir além, de também tomar algum rumo. Ao não me dar um Deus, meus pais me deram um carnaval deles. Há um bloco melancólico e não ouço senão a cuíca. É ela, saravá senhor, que vem me proteger da auto-piedade e da lamentação ventosa, é sempre o som dessa cuíca que chega junto a morte, que carrega o amor que parte, assovia ao túmulo e acena, para que a cada término seja lembrado todos os términos, para que a cada dor seja sofrida todas as dores, e para que o próximo passo tenha a força de todos os outros dados para se chegar até aqui. Junto novamente os joelhos, e invento essa reza antiga, não por gaiatice, é que na invenção guardo minha raíz, o que é ancestral, o que crio com essa sinceridade inventada é o que tenho de mais antigo, de mais. E miro os olhos enfermos de tanta razão e clareza - já prenúncio da próxima tempestade, sedento pela nebulosa: amar é por demais turvo. E qual não é minha felicidade dolorida em me reconhecer em cada história. Os cachos amarelados, aqueles cabelos adolescente e confiantes, a língua do gosto de um beijo tenso, a radiografia antiga desconfirmando paixões tão cheia de ossos, a excitação do sexo pleno, vadio, glorioso, os souvenirs de viagens em que praticamente nunca voltei, os móveis estragados que o próprio exército da salvação recusou enquanto doação. Estão aqui, todos os olhares dos meus amores, passados mas que aqui são permanecidos em louvor, observando carinhosamente aquilo que posso ser. Amém, Xangô. O amor enxerga o que ainda serei. Eu vejo demais o que deixei de ser.