26 de jan. de 2011

Fraco

Quando o sangue perde o interesse pelo corpo, ele fica sem cheiro. Só por alguns instantes, antes de entristecer-se e pegar o cheiro de morte. Foi nesse pequeno instante, que só se torna pequeno quando começa a habitar a memória, pois ali caberia um mundo de coisas, não há quem prove o contrário. Foi nesse pequeno instante, que ele disse, sem nenhum esforço, num último sopro de lucidez:

- Sempre que eu vejo muito amor, eu me sinto fraco.

Já fazem muitos anos que ele fechou os olhos, logo depois de ter dito isso, e nunca mais abriu.

7 de jan. de 2011

Refrão

A voz cantava.
Sou um homem de rigor, tenho compromisso formal com a dor.
Repetia o refrão. Apenas o refrão. Sentou na cadeira de junco. A madeira lhe conversava uma dureza acolhedora. Há restos de mim em todas as mulheres que amei. Pensou. Mentira. Olhou-se sem pretensão. Há muito mais de mim nelas. O que ficou, é que são restos. Desde pequeno aprendera a fazer dos trastes, brinquedo, do imprestável, sorrisos. Esqueço os endereços dos lugares onde fui feliz. É minha forma de protegê-los.

Cemitério

Sou um cemitério pelo avesso. Meus mortos estão em covas rasas: afundaram na superfície. Carrego meus indigentes com o carinho de quem se desconhece pela semelhança. No espelho, fico aliviado quando não me reconheço. A morte só pesa por fora, tudo por dentro tem intenção de vida. Preciso inventar minha vida, não posso continuar a aceitar as lembranças sem as cicatrizes de minha criação. Tudo que não invento é refém da minha memória. E minha memória é um segredo sem cofre.

6 de jan. de 2011

5 de jan. de 2011

Me

There was a boy...
A very strange enchanted boy.
They say he wandered very far, very far
Over land and sea,
A little shy and sad of eye
But very wise was he.

And then one day,
One magic day, he passed my way.
And while we spoke of many things,
Fools and kings,
This he said to me,
"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return."


Eden Ahbez