8 de jan. de 2017
27 de mar. de 2016
Zinho
Escrever é um barril, né man?
Mas se ligue: Venha.
Mesmo que demore como a porra.
Venha.
Eu tô nesse move desde que minha mãe morreu. Eu só falo de minha mãe quando escrevo.
Venha, rei, na moral.
E nunca vai ficar de boa, vou logo dar a real. E quem é que tá de boa, hoje em dia, pelo amor de Jeová?
Até Neymar tem que comer régui de vez em quando. E ele corre feito a porra, viu.
Venha e venha logo, mísera.
Mas se ligue: Venha.
Mesmo que demore como a porra.
Venha.
Eu tô nesse move desde que minha mãe morreu. Eu só falo de minha mãe quando escrevo.
Venha, rei, na moral.
E nunca vai ficar de boa, vou logo dar a real. E quem é que tá de boa, hoje em dia, pelo amor de Jeová?
Até Neymar tem que comer régui de vez em quando. E ele corre feito a porra, viu.
Venha e venha logo, mísera.
17 de jan. de 2016
3 de dez. de 2014
Atento
Estar atento é isso, o avesso do tento de tentar, de esforço ou tentação, alvoroço e inundação.
O mundo voa, mãe. O mundo e seu vizinho sem nome. O mundo e seu primo com fome. O mundo, pai. E porque não temos asas não podemos sentir falta delas? Quase não há ausência mais sentida. O chão é o acontecimento do mundo. É no chão que o mundo vive. Quando toca no céu, o mundo sonha. Quando o mundo se confunde, às vezes chove, às vezes lua, às vezes sol. O mundo também é isso, mãe, esquecido dos olhos, lembrado das ruas. Cozinhei uma infância, comi, deu uma dor de barriga, botei pra fora, o mundo continuou. Não sei lhe fazer sentido, hoje dói, o mundo não é mais o mesmo, eu não sou mais o mesmo. Respirar mesmidões, multidões, nadas, nada grande e nada pequeno, vazio alto, vazios baixos. Um vazio anão é perigoso porque você acredita que ele nunca vai crescer. Mas vazio cresce no outro, não em si. O menino percorreu o mundo até virar homem, mas ainda assim o mundo chegou primeiro. O mundo nem é rápido, mas sempre chega primeiro. As pessoas de mãos dadas, as mãos de pessoas soltas, o mundo não dá a mão. Atravessa a rua como eu, naquele dia. Eu quase morri. Se juntar todas as vezes que quase morri, ainda assim eu estaria vivo. Porque morte precisa de inteireza absoluta. Quase morrer me belisca pra viver por completo.
O mundo é uma piscina enorme de quase morreu boiando. Quem tá inteiro fica sempre no fundo, mergulhado. Se Deus não está morto, meu avô não está morto, o mundo também erra nas contas, mãe. Números, números, pai. Não me pergunte porquê eu sei. As coisas que a gente sabe com mais fervor são aquelas que não sabemos dizer porque sabemos. Eu queria continuar falando sobre essas coisas que não tem isso, nem aquilo, nem por causa, nem por onde. Mas eu também me perco, mãe. Eu também às vezes caio no chão e olho pro céu com os olhos chuvosos. Meu joelho ralado, metade que ficou ali mesmo.
Eu estou atento, pai.
Escrito em 2006, resgatado e editado, hoje.
22 de set. de 2014
Bilhete para você
Eu queria te falar sobre a tristeza. Não que eu esteja particularmente triste. É que - pensei aqui sobre as particularidades da tristeza, queria não divagar, então finjo que isso aqui é aquele momento em que chego perto do seu ouvido para falar sobre algo que não sei direito ainda - existe essa demanda insolente de assuntos tristes nos assustando os olhos, os ouvidos, quero crer em bocas. Quase ninguém é realmente legal, um tropeço e seu melhor amigo fica distante, o cobrador do ônibus pode te surpreender, mas no dia seguinte ele não vai te reconhecer. Quem é mesmo que te conhece? Essa pergunta besta, mas é que a tristeza é isso também: quando o que a gente desconhece deixa de nos movimentar. Vejo as imagens, de longe, tudo é de longe, tentando ser paciente, mas sou grosseiro, compro brigas, não sei pagar fiado. Eu não sou legal. Isso não é um deboche, tou aqui pensando comigo mesmo sobre a gravidade dessas coisas, das notícias, do papo-furado, daquela saudade que a gente sente. Preciso te falar sobre a tristeza porque você vai me entender. Vai me ajudar a olhar para os lados e ser mais carinhoso com as escolhas alheias, porque uma parte considerável do equívoco está nos nossos olhos. Não consigo mais recortar algum desgosto e compartilhar contigo naquele nosso movimento bonito de melhorar. Não sei ser otimista longe de você. Desde que sai da sua barriga, me sinto longe. Aprendi a ficar longe. Mas não aprendi a ser otimista. Queria te falar da tristeza não porque estou triste, mas porque te amo, e sei que você não vai ficar preocupada. Você é ocupada de mim e não sei como você sobrevive. Queria te falar da tristeza porque as coisas estão indo bem, encontrei pessoas que me acham bacana. Elas não me conhecem direito ainda. Queria te falar dessa moça que conheci, não sei o que vai acontecer, mas me senti tão bonito outro dia do lado dela, quase um galã. Pequeno, magrelo, mas um galã. Queria te falar sobre a tristeza, porque não sei o que é felicidade. Queria te falar sobre a tristeza porque quando a compartilhamos, ela muda de cor e de gosto. A verdade é que quando estou imerso na tristeza, não consigo falar sobre. É quase como uma traição. Não entendo essa fidelidade. Por isso queria te falar hoje, porque consigo respirar, tenho horizontes para olhar, a moça do café é sorridente, e eu ainda estou vivo.
Eu queria te falar sobre a tristeza porque estou com saudades. E ontem ensinei meu amigo chinês o que significa saudade. E ele saiu achando que em português as pessoas tem mais sentimento do que em outras línguas.
18 de fev. de 2014
Next time
Para o celular, para a janela, para mim. Ela olha. Repete a ordem. Nossa desordem. O celular, a janela e eu. A janela do metrô reflete. O celular reflete. Eu reflito. Seu rosto. Era uma dança. A minha parte da coreografia era um olhar fixo em seus olhos, só com intervalos para piscar, e mais ao final, molhar as bordas. O celular, a janela e meu rosto. Na cadência, no improviso que cabia dentro do ritmo estabelecido, ela escrevia algo. Na sua frente, meu ímpeto era só um: aprender aquela língua o mais rápido possível para conseguir entender o que ela estava falando. Depois de um tempo, ela passou não apenas a escrever algo, mas também a tentar me ensinar aquela língua. Tudo sem perder a dança. O celular, a janela e eu. O tempo do celular e o da janela era pautado pelo tempo que ela conseguia ficar olhando nos meus olhos. Aquele mergulho que a gente dá e tenta contar quantos segundos consegue ficar debaixo d'água. Lembrei do mergulho, mas a verdade é que não tinha o tempo. Ninguém contava os segundos. Não dava para contar. Naquele momento não existiam números. Se existia alguma matemática sobrevivente, era apenas uma geometria afetiva muito simples, que revela os ângulos: para o celular, para a janela e para mim.
Aqui, uma pausa rápida para dizer que vivo para encontrar um momento assim, capaz de tornar a matemática do mundo menos complexa.
A maioria das coisas que estou tentando relatar agora são pensamentos posteriores. Isso precisa ficar claro. Na dança, não passou absolutamente nenhum pensamento pela minha cabeça que não fosse: aprender aquela língua, entender o que ela estava dizendo. Até que pequenos soluços de angústia surgiram. Eu moro longe, mas eu moro em algum lugar. Não tenho a eternidade para aprender aquela língua. Depois, veio a vontade de querer traduzir rapidamente aquilo tudo para o vocabulário do flerte, da sedução de metrô, esse dialeto vagabundo que eu, aos poucos, perdia o sotaque e me tornava fluente. O celular, a janela e eu. No celular ela ganhava fôlego, na janela ela pegava impulso e em mim, ela pulava. Num desses pulos, uma lágrima escorreu do meu olho. Eu não sei explicar, talvez a concentração nos olhos tenha sido intensa, uma reação natural para lubrificar, aliviar a tensão. Ela olhou sem saber como reagir, demorou mais do que o normal mergulhada em meus olhos, agora devidamente úmidos. Quando eu finalmente achei que tinha compreendido aquela língua, ela estava ali mergulhada, sem repetir o que vinha dizendo. E eu não tinha memória alguma do que ela tinha dito antes. Agora, eu lembro o cheiro de cada detalhe, mas naquele momento eu era um estrangeiro que, ao acabar de aprender a falar bom dia, tinha mudado de país num piscar de olhos. Um mundo com uma matemática mais simples talvez seja também um mundo de memórias mais curtas. Eu só precisava que ela continuasse a dança. O celular, a janela e eu. Só isso. Não. Ela continuou mergulhada até que uma lágrima também escorreu. Ela sorriu. Quando eu achei que tinha aprendido algo daquela língua, ela diz algo completamente novo. Sorriu. Levantou. Era sua estação. Ela se aproximou um pouco, ainda carregando o sorriso e disse: See you next time.
10 de jan. de 2014
Devasta dor
No choro devastador ou no orgasmo profundo. Estava vivo. No intervalo entre esses dois acontecimentos, morria os dias.
29 de jul. de 2013
Mais um dia
Por razões, desconheço. Por emoções que reconheço. Só há o dia, mais um dia, e amanheço.
28 de jul. de 2013
26 de jun. de 2013
02 de fevereiro
Sua vida antes da barba foi a expectativa pela chegada dela. Há quem acredite que nasceu já com barba, já ensinando, nascido em sala de aula. É uma versão um pouco exagerada, mas merece ser ao menos mencionada. Quando eu era criança, o maior defeito de meu pai era não saber jogar bola. Era um legítimo perna-de-pau, indiscutível.
Meu pai é de uma marca de gente parcelada. A gente vai pagando, aos poucos. A medida que o pagamento vai sendo efetuado, vamos nos apropriando do bem adquirido, do sentimento, às vezes tão sofrido.
Descobri que sou forte nos outros, e frágil em mim mesmo. Todas as vezes que tentei ir embora, não consegui. Não é possível ir embora de meu pai a pé. A primeira vez que me fez chorar, fotografou. Dizia da beleza do meu choro, quando menino. Chorei outras tantas vezes por ele. Por incompreensão. Por mágoa. Por desvios. Hoje, choro de saudade. No dia líquido de Yemanjá, tenho a garoa paulistana e as palavras, sim, esse milagre que ainda me faz menos vira-lata, para entender que amor é isso também.
Já colocou a mão na cara da polícia, foi líder vermelho em país verde-amarelo, teve um filho, três ou quatro grandes sonhos e cinquenta e um projetos. Meu pai ainda não descobriu que eu o re-inventei. Passou boa parte da nossa vida longe, tive tempo de desenheá-lo com barbas de várias cores e escrevê-lo com canetas variadas. Não irei me prolongar. Tenho exercitado os passos curtos. Essa pequena carta começou a ser escrita em um 23 de janeiro do ínicio da decáda de 80. E isso aqui é apenas um ponto de continuação. Meu pai foi a herança que meu avô me deixou. É a parte de mim mais resistente ao mundo.
Escrito em 02 de fevereiro de 2005.
Escrito em 02 de fevereiro de 2005.
22 de fev. de 2013
14 de jan. de 2013
1 de nov. de 2012
6 de ago. de 2012
Nacionalidade
Minha nacionalidade é a palavra "Vamos" saída de sua boca. Quando você diz, me sinto ouvindo o hino, com medalha no peito, nessas olimpíadas cheias de descaminho. Do Deus caminho.
18 de jul. de 2012
Me busque
- Me busque mais tarde.
Ela falou assim, com uma certa tranquilidade, como quem poderia a qualquer momento complementar com um "e não esquece de me trazer aquele chocolate que eu amo". Então sorriu, esse sorriso semente de novos mundos. E foi o último. O resto da minha vida agora chama-se mais tarde.
Ela falou assim, com uma certa tranquilidade, como quem poderia a qualquer momento complementar com um "e não esquece de me trazer aquele chocolate que eu amo". Então sorriu, esse sorriso semente de novos mundos. E foi o último. O resto da minha vida agora chama-se mais tarde.
Assinar:
Postagens (Atom)