É quase uma dor sem corpo. Tem a delicadeza para apertar além.
16 de dez. de 2008
Aperto no peito
É quase uma dor sem corpo. Tem a delicadeza para apertar além.
14 de dez. de 2008
13 de dez. de 2008
Meu silêncio
25 de nov. de 2008
Voz
Encantar é pura música.
16 de nov. de 2008
15 de nov. de 2008
Mil vezes
No filme São Paulo S/A.
1 de nov. de 2008
Certeza pra dentro
Quando essa pequena luz falta, é nesse lugar que retorno. O movimento de chegar até aqui é doloroso, não deixa nada passar em vão, a incerteza questiona meu sapato, minhas compras, minhas escolhas, meu rosto, vasculha minha memória e não deixa nada intacto. Mas quando chego nesse lugar, deixo de sentir raiva de mim, ou melhor, raiva da incerteza. Sento numa poltrona vermelha, que é a mesma desde os tempos da escola, quando eu vinha aqui inseguro por ainda não saber amarrar o cadarço do sapato. Quando sento nessa poltrona vermelha, é como se a luz, uma lucidez mágica me permitisse compreender inclusive minhas incertezas. Observo sua voracidade em questionar tudo com um semblante quase ancião. Talvez eu estivesse em outro lugar, fazendo outras coisas, não fossem minhas incertezas, não fosse esse lugar que venho de tempos em tempos, quando ela me embriaga. Isso é claro pra mim: retornar a essa poltrona vermelha não deixa de ser um retrocesso, alguns passos pra trás que dou. Ninguém é plenamente corajoso. Mas sei que se eu parasse menos para indagar minha própria ousadia, eu estaria adiante. Só que não me interessa mais estar adiante. Porque não serei eu. A incerteza é minha parceira mais fiel. E nesse vendaval de conflitos, rivalidade e competição, a poltrona vermelha é iluminada: não há qualquer comparação. Ninguém é melhor do que eu, na poltrona. Simplesmente porque essa lógica perde o sentido. A poltrona nunca me trouxe qualquer resposta. Mas me dá de volta a convicção necessária para continuar no movimento, na busca.
Incerteza é a certeza interior.
21 de out. de 2008
Nossas conversas
- eu tb quero isso! e isso tem um preço. vc está disposto?
- mais do que disposição, tenho tesão. sem tesão, não sei permanecer.
[...]
Ainda farei um filme de nossa prosa, Faria.
19 de out. de 2008
12 de out. de 2008
9 de out. de 2008
Trecho de algum filme de mim
Quase sentido
Talvez por isso o dia posterior seja definitivamente um entrave na nossa trajetória de bichos. Porque o sexo sem sentido exige renúncia total: tanto das emoções demasiadas quanto das razões equilibradas. Sem sentimentos, sem reflexões.
Eu sei que o sexo é sempre algo sem muito sentido. Está em sua essência. É a incompreensão do corpo, uma dança que está sempre buscando novos ritmos, cansa fácil das coreografias certinhas ou dos passos engessados da dança de salão. Mas mesmo perdido, ele caminha conosco até certo ponto. Até a virada da esquina da alma. Ali, existe um vento frio que serve de porteiro dos sentimentos. Movimenta o corpo por dentro e por fora. Quando há qualquer coisa sem nome, sem face, sem idade, qualquer coisa que simplesmente transcende. E o dia posterior faz todo sentido do mundo. E a gente acontece. E a partir daí, qualquer sentido torna-se irrelevante. Sentir já demanda todo o corpo.
Por isso, mesmo reconhecendo toda a beleza que pode existir no sexo sem sentido, confesso esse desconforto. Com esse vento frio me barrando na esquina. Sem sentimento, o dia posterior me torna ainda mais só.
A solidão é uma desgraça na alma. Mas é uma desgraça honesta. Nesses tempos, impossível não reconhecer o valor dessa virtude.
Nas noites sem sentido, não existe honestidade. É preciso muita sinceridade para ser desonesto consigo mesmo.
20 de set. de 2008
Acontecer
Na TV Record, o programa Hoje em Dia resolveu fazer uma matéria sobre o Sebastião Nicomedes - o Tião, que entre outras coisas foi o tema do documentário que realizei na conclusão da graduação. Em outros tempos, talvez eu me recusasse a participar dessa pequena alegoria, com esse sempre excessivo olhar crítico. Mas nesse caso não teria o menor cabimento. Depois de conhecer Tião, e meses depois, concluir a faculdade, comecei a entender com menos rebeldia e mais astúcia esses elementos do nosso carnaval midiático. Talvez não existisse personagem real mais pertinente para um pretenso sujeito da comunicação falar. A reportér errou meu nome - disse Vitor Freitas - mas depois fui salvo pelo nome escrito corretamente na tela.
Assista aqui.
15 de set. de 2008
Ela vai saber.
O medo dela me beijou na boca. Meu medo, por puro ciúme, começou a falar de coragem.
1 de set. de 2008
Trapézio
Antônio Bivar, por Maria Bethânia no disco Drama 3°Ato, 1973.
Escute na voz dela.
31 de ago. de 2008
Seguro
28 de ago. de 2008
pra gaveta
É isso que sinto as vezes, mais do que uma falta de controle, mas é como se a dor não me pertencesse. E sim o contrário. Por isso quando recorro a memória e vou nessa sensibilidade ignorante e tardia refazendo caminhos equivocados. Despedidas mal feitas. Aquela frase que poderia ter sido mais branda. Uma sisudez desnecessária para sua mãe que você pouco vê no ano. Uma jogatina de palavras vãs em discussões pueris com aquele amor. Aquela história que poderia ter dado mais passos adiante se a firmeza dos meus pés não fosse tão agressiva em momentos que bastava dar um pulinho, como esses que a gente dá na poça em dias de garoa simbólica. Alguma dureza em lidar com o pai quase que o punindo por sermos tão parecidos em pontos que não me agrada. Uma precipitação. Isso não é um vendaval qualquer de pequenas desgraças. Isso é o que compõe essa minha identidade da dor. Aquele último abraço que não consegui dar no meu avô. Não se reconhecer em sua própria dor é ser anônimo de si.
26 de ago. de 2008
17 de ago. de 2008
mi
Caymmi é o que a música brasileira pode ser.
Saravá, nossa saudade.
7 de ago. de 2008
li imitar
Quando aquele corredor cambaleando vai se arrastando até o fim da prova, não é o espírito olímpico que importa. Até porque espírito olímpico é uma bobagenzinha politicamente correta. Essa cena toca profundamente porque materializa esse desafio: é como se cada passo fosse mais um cima da superação de si mesmo. E mais um. E outro. Existe uma beleza arrebatadora nisso. Não é um teste de capacidade. É um flagrante de vida.
"Eu vejo a beleza no mundo através de homens que chegaram ao limite."
Naomi Kawase
6 de ago. de 2008
anotei e botei na jaqueta da alma
É sempre esse desafio: não ser diferente. Mas ser único. Não exclusivo, sem essa falácia de ser especial. E sim autêntico.
27 de jul. de 2008
Direito de sambar
É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar
É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar
O destino não quer mais nada comigo
É meu nobre inimigo
E castiga de mansinho
Para ele não dou bola
Se não saio na escola,
Sambo ao lado sozinho
É proibído sonhar
Então me deixe o direito de sambar
É proibído sonhar
Então me deixe o direito de sambar
Já faz dois anos que eu não saio na escola
A saudade me devora
Quando vejo a turma passar
E eu mascarado, sambando na avenida
Imitando uma vida que só eu posso enfrentar
Tudo é carnaval
Pra quem vive bem
Pra quem vive mal
24 de jul. de 2008
Batman, casais, coringa e cinema
Eu não ia escrever isso aqui.
Mas ai começou o filme. Fiquei com vontade de falar qualquer coisa sobre o filme. E achei que seria importante falar desse ínicio. Não vou fazer crítica cinematográfica ou tecer algum comentário do universo HQ. Também não quero avaliar a atuação do Coringa. A morte só faz voar quem em vida tomou o impulso.
Gosto dessas coisas humanas que costumamos afastar da humanidade. Derrotas, sujeiras, insanidade, decisões erradas, atos passionais, caos.
Aquele Batman e Coringa que presenciei me trouxe tudo isso. O maniqueísmo foi repaginado de maneira 3D. Criou-se volume. Batman e Coringa não são faces de uma mesma moeda. São vértices de uma forma geométrica volumosa, cujo conteúdo seja foge da lógica. ordinária .Coringa está ali para desmascarar aqueles que planejam. As pessoas dos planos. Do prefeito ao homem-de-bem comum. É que talvez seja verdade: planos não funcionam, mesmo quando funcionam. Batman não está mais ali para ser herói. Está ali movido por paixões e convicções. E mata do mesmo jeito. Caráter é uma falácia. Autenticidade é o que une os dois. E eles não matam um ao outro. Porque nenhum dos dois operam com uma lógica convencional. Coringa não está atrás de dinheiro. Batman não está atrás de justiça para o mundo. E a identificação recíproca os mantém vivos. Os dois são seres completamente atormentados e reagem cada um a sua maneira a isso. Uma dose de irreverência cruel aqui. Uma pitada de idealismo sem escrúpulos ali.
O casal reproduziu no final a cena de amor que talvez tenha faltado no filme.
15 de jul. de 2008
trechos desquitados, idéias solteiras
1 de jul. de 2008
26 de jun. de 2008
16 de jun. de 2008
5 de jun. de 2008
alas
Criação, design e texto: Vitor Freire
Fotos: Tiago Lima
Para o "cortado chico", belo fanzine de Vânia, Rebeca e Ceci em Buenos Aires.
4 de jun. de 2008
nina
Love me love me love me
Say you do
Let me fly away
With you
For my love is like
The wind
And wild is the wind
Give me more
Than one caress
Satisfy this
Hungriness
Let the wind
Blow through your heart
For wild is the wind
(...)
3 de jun. de 2008
foi por pouco
Desse tempo, acho que só permanece um pouco da criança: o comunista, o jiraya, o alto e o forte foram todos embora.
quantos pai-nosso, padre?
E sempre quase acontece. Mas tudo ocorre tão rápido, que logo a paixão perde-se. Eu seria capaz de demorar uma vida inteira no olhar. Uma vida quase inteira. No último suspiro, tragava todo o resto.
Não posso mais entrar naquele cinema sozinho.
30 de mai. de 2008
participação
perigo e medo
27 de mai. de 2008
só pra constar
O que me incomoda mesmo é que estar vazio me trás a sensação de estar cheio de tudo. Cheio de nada. A barriga cheia de vento.
Preciso alimentar minha fome.
14 de mai. de 2008
indecisão é decisão interna, pra dentro.
Fabrício Carpinejar
11 de mai. de 2008
antes do princípio das coisas
Tudo o que passámos, naqueles dias, não era definitivo, não tinha coordenadas futuras, seria, por fim, o crescendo que iria morrer de repente. Olhava-te no sono e pensava que sabia exactamente a data em que o amor iria desfazer. A ilha congelada no nosso abraço. Nos teus pensamentos era tudo o que fazia sentido. Eu tinha um prazo. Uma vida à minha espera, um regresso feito de poucas memórias. Ficarias em terra, náufrago de mim, sem perceber os destroços de nós.
Sabia exactamente o vermelho de sangue que te iria escorrer da alma, como uma tinta, como um salpico de dor demasiado forte para o teu corpo magro.
Não tenho coração, pensava nas noites em que ficávamos a olhar o reflexo da lua no atlântico.
Tu contavas a história do duende prateado que tem de acender as luzes todas do mar da tranquilidade. Ele que prometeu ao sol que pode dormir sossegado. Haverá sempre uma luz para espantar as coisas más. Quando me fui embora, não deixei morada. Hoje, quero que saibas que não te disse nada e quando te pedi para me morderes o coração era só para me certificar que ele existia no meu peito. Tu preferiste beijar-me, nunca me mordeste e, assim, fiquei sem saber."
morder-te o coração é uma pequena caixa de ferramentas para afetividade defeituosa. Mas essas pequenas chaves de fenda em forma de palavras não irão consertar-te em nada: surgem para inutilizar-nos de nós mesmos, um pouco, ainda que por poucos instantes.
No vigor da escrita da portuguesa Patrícia Reis, não há como puxar o ar, num desejo do fôlego, sem que junto não entre para os pulmões esse invisível - porém tão sentido - frescor da comoção de amar. Independente do contexto em que se esteja - casado, sofrendo, solteiro, apaixonado, vadio - as histórias entrecortadas de pequenos relatos - ele e ela, vão se encaixando e encaixotando-se sem piedade de nos abarcar. Penso que há ai um apontamento para ressignificar a dor amorosa - que não está somente nos corações partidos, mas da falta de inteireiza que tem nos afligido nesses tempos.
Uma surpresa. O livro é impecável, nas cores, na capa, nas páginas com pausas negras. Na contracapa, sorri debochando o aviso que Agualusa faz: "Este (pequeno) livro é precioso (e raro) e deve ser manuseado com cuidado: contém emoções."
"A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer. A felicidade tem que ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que me não falta nada, quase nada."
Em nome da terra, Vergílio Ferreira (citado no livro da Patrícia Reis)
foto: Tiago Lima
1 de mai. de 2008
Um Brasil Sertanejo Ilustrado Caboclo Negro Tapuiá
29 de abr. de 2008
25 de abr. de 2008
individualidade, desamparo, falácias contemporâneas
Folha - O individualismo tem uma conotação pejorativa. Por que valorizá-lo?
GIKOVATE - Individualismo não é egoísmo. O egoísta gosta de turma, porque é aí que encontra um generoso para "mamar na teta". O generoso também não é individualista porque tem a necessidade de dar. O individualismo resolve o dilema entre o egoísmo e a generosidade: é eu me entender como uma unidade e, se eu me sentir desamparado, resolver isso por mim mesmo, e não por meio do outro. Isso não significa não me relacionar, mas o outro deve ser escolhido por afinidade intelectual, como os amigos.
Folha - Se esse encontro não ocorre, é possível ser feliz sozinho?
GIKOVATE - Meu livro tem dois finais: um é ficar sozinho; outro, bem-acompanhado. Ambos representam a vitória da individualidade. Posso jogar tênis sozinho ou em dupla. O que não posso é jogar com um parceiro desleal, ciumento e que queira mandar em mim.Ninguém aceitará gente querendo mandar. Isso não é ser egoísta. O egoísmo se caracteriza pela intolerância à frustração. O independente resolve agüentar suas dores. Além disso, hoje, o mundo é mais favorável a pessoas sozinhas.
Folha - Como o sexo ocorre nesse amor que parece amizade?
GIKOVATE - Isso é um problema porque, em nossa cultura, o sexo vai melhor quando há briga. As pessoas gostam mais de transar com inimigos do que com amigos. Isso mostra como precisamos avançar no entendimento da questão sexual. Ainda é preciso inventar um erotismo que não seja comprometido com vulgaridade e violência. Para superar isso, é preciso ser criativo e entender que as leis da atração sexual não são as mesmas das relações afetivas de boa qualidade. Na hora do sexo, talvez seja necessário mudar o canal, no qual o outro tem de deixar de ser o parceiro sentimental para ser um outro. É assim que os casais que se amam de verdade descobrem estratégias para que o sexo flua.
+
Uma História de Amor... com Final Feliz
Flávio Gikovate
6 de abr. de 2008
impasses
"(...)
now it might be a little bit sentimental no
but she has her greavs and care
but the soft words they are spoke so gentle
yeah yeah yeah
and it makes it easier to bear
oh she wont regret it
no no
them young girls they dont forget it
love is their whole happiness
yeah yeha yeah
but its all so easy
all you got to do is try
try a little tenderness
(...)"
Otis Redding é um chute impiedoso. Maravilhosamente impiedoso.
4 de abr. de 2008
cuidado
Meu avô não me faz mais falta. Descobri isso hoje. Me faz presença.
surpresa
Julie Delpy, no filme Dois dias em Paris
1 de abr. de 2008
grande e duro
Dráuzio Varella
28 de mar. de 2008
problema
22 de mar. de 2008
realidade artesenal
Janet Malcom
21 de mar. de 2008
acordar e dormir
12 de mar. de 2008
paladar
11 de mar. de 2008
presente ausente
7 de mar. de 2008
dose
ciranda insana
13 de fev. de 2008
Viaduto
Acabo de realizar a montagem de um documentário intitulado "Sobreviventes". E nesse momento não me sai da cabeça aquele senhor e seu sangue no asfalto e a sua decisão sobre viver: morrer. A liberdade absoluta só existe em momentos limites, situa-se em certa altura, no filme. Agora, sentado ao lado desse incômodo, tento me aproximar dessas pessoas que preferiram eternizar essa liberdade absoluta. Um infortúnio, uma falência, uma doença, uma decepção amorosa, um ato político. E talvez não seja apenas uma questão de poder sobre sua própria vida ou livre-arbítrio. Quantas pequenas mortes são necessárias para construir a definitiva? No tropeço das contas, uma antecipação. Morrer é algo que dispensa comentários.
Fiquei amigo desse incômodo.
3 de fev. de 2008
pensata sobre edição
Walter Murch
20 de jan. de 2008
Rilke
"Como suportar, como salvar o vísivel, senão fazendo dele a linguagem da ausência, do invisível?"
13 de jan. de 2008
1 de jan. de 2008
cinema e imaginação
Jean-Marie Straub