Se algum vizinho ou transeunte reclamasse, ele repetia. Era capaz de repetir insistentemente para reagir a cada reclamação. Reativo, até quando o céu estava acinzentado, ele tomava as dores. E repetia o grito.
Isso ocorreu durante anos e aquela história corria os quarteirões. A rua do gordo que pode ser feliz.
Ontem o gordo, já meio emagrecido, com uma cara visivelmente abatida, chegou na varanda, olhou para os lados e para o céu. Ontem fez um solzinho até. Ziltino da padaria, lá embaixo, deixou o pão na chapa e colocou a cara pra fora, estranhando a ausência do grito.
O gordinho se jogou lá de cima. Nem gritou nada.
O silêncio engoliu a rua. Estava todo mundo impactado, sem saber o que dizer, como reagir. Nem o Tião piadista conseguiu improvisar uma anedota a tempo. Calou-se. Quem estava ali podia jurar que o silêncio nunca mais iria embora.
Até que uma senhora velhinha, a vizinha do gordinho, chegou na varanda dela e gritou: "Eu também posso ser feliz."