27 de dez. de 2005
19 de dez. de 2005
sonho. lúcido. catarse. couto.
Avô Mariano
- É preciso luz para se distinguir as cores, menino.
- Mas no escuro, quando durmo, eu sonho colorido.
- É que aí, acende-se uma luz por dentro.
(...)
- Amanhã estou cansado, posso faltar o dia?
- Pode. Sempre pode. Mas depois não reclame quando o dia lhe faltar.
- Sinto que essa voz não é minha. Entende? Escolho as palavras, mas a voz que as diz não é minha.
- Gosto quando você canta a música do peixe.
- Sinto falta de uma voz própria. Entende?
- Minha voz própria é o silêncio.
- Talvez amanhã eu esqueça de dizer que te amo.
- Não faz mal.
- Eu vou sentir falta. Eu já estou sentindo falta.
- Você tem um pensamento longo. Mas suas palavs são curtas.
- É que sinto muita falta das coisas que vou esquecer.
10 de dez. de 2005
Interlocutores
"Como conhecer as coisas senão sendo-as?"
Jorge de Lima
"Os sentimentos é que devem conduzir os acontecimentos. Não o contrário."
Bresson
"O amor é velho, velho, velho e... menina"
Tom Zé
"Se expressar é uma questão de vida ou morte"
Ferreira Gullar
"Porque a pior censura é a econômica, não a política."
Glauber Rocha
"Sabiá, vem me dizer, por favor, o quanto que eu devo amar, pra nunca morrer de amor."
Torquato Neto (Música Zabelê, de Gil)
8 de dez. de 2005
Onde nunca toquei
A
3 de dez. de 2005
pequenas histórias partidas
http://cabezamarginal.org/vitor/historietas
28 de nov. de 2005
vendaval da mente - I
O ínicio rascunhado
Minhas olheiras são as pegadas do sono em meu rosto. Sim, o sono passou por aqui. Mas parece que não voltará mais.
Pai está no quintal com sede do alambique. Ele diz que bebe cachaça para deixar mais água para nós. A única pessoa colorida em casa é a televisão.
Então eu percebi que não adiantava mais. A minha memória tinha se tornado a minha imaginação. Assim, me conformei quando as lembranças da infância começaram a inventar alguns dos meus dias já velho. Apesar de ainda ser díficil aceitar que talvez algumas das recordações dos tempos de criança tenham sido livros escritos com terra e lápis.
p.s: No domingo, comecei a gestar um livro no estômago. Mas estou mijando devagar cada frase. Algumas colocarei aqui.
26 de nov. de 2005
coleções de fatos
No carro, mãe e filha. 38 e 5, anos. A mãe, observa crianças pedindo esmola na rua e vê uma grande oportunidade para educar sua filha.
- Tá vendo ali, minha filha? Aquelas crianças não tem brinquedos nenhum. Não tem bonecas. Não tem as coisas que você tem. Elas tem que morar na rua. Muito triste.
A menina olha. Olha. Olha. Sorri. E responde.
- Mas elas tem a rua inteira, mamãe.
21 de nov. de 2005
11 de nov. de 2005
BOM DIA
Fui para Lavras Novas encontrar meus irmãos - de alma, de prosa e verso, de cuspe e sangue, de segredo e comunhão. Os guerreiros do Bom dia. Saravá.
Eu volto. Não Eu, esse, que, hoje, sou. Volto outros. Volto o carnaval deles. Volto na quarta-feira de cinzas. Mas não cinzas, dessas. Volto reconstruído.
8 de nov. de 2005
IPTU resumido da vida
Saiu pela cozinha na casa dos trinta.
Entrou pelo quintal na casa dos quarenta.
Ficou na varanda na casa dos cinquenta.
Caiu do telhado na casa dos sessenta.
Com 69 anos de idade, foi morar num apartamento. Não acostumado, poucos meses depois, se jogou. Caiu do décimo andar na rua dos setenta.
anterior mente
Foi tão convincente, que não conseguiu enganar.
3 de nov. de 2005
A espera de melodia
diz amém a toda dor
janela aberta
vento entrando
sem pudor
ah, meu amigo xangô
você é o único que não pergunta
para onde vou
é um canto assim
saravá
é um canto assim
devagar
uma mão pra esconder
uma ferida na mão
um corpo pra esconder
uma ferida no coração
é uma prece
uma única reza
ah, xangô
E meu senhor do Bomfim
sozinho em casa
mas a casa não está sozinha
em mim
quem dói de amor
diz amém a toda dor
Os deuses sem beleza
Caminhando sem certeza
Todos próximos, todos aqui
Os deuses que não queiram me salvar
Um Deus, que saiba compartilhar
uma dose de silêncio
na mesa do bar.
berequetê
tem Deus por Tupã
por Tupã, por Tupã,
Sou Tupi-guara...
Sou Tupi-guara dessa terra de Tupã
Iarerê por erê de xexéu
Como os passarinhos do céu"
(...)
31 de out. de 2005
226
Terminei. 226.
Foto: Tatiana Cardeal
28 de out. de 2005
antiga história reencontrada nos papéis
04.03.2003
27 de out. de 2005
Eles - Com quantos homens se faz um homem?
p.s: Ainda faltou alguns. Aqueles que eu não tinha fotografias.
24 de out. de 2005
22 de out. de 2005
não entenda. apenas tenda.
não, não estamos bem. mas nunca estivemos tão bem mesmo sabendo que não estamos bem, antes.
"o cinema argentino fala de coisas que podem acontecer em qualquer lugar, mas são feitos somente na argentina. o cinema brasileiro fala de coisas que só acontecem no brasil, mas podem ser feitos em qualquer lugar."
Não é para discordar ou concordar. Apenas fiquei pensando a respeito.
14 de out. de 2005
de tanto bater meu coração parou - notas íntimas
a secreta paixão pela mão
A ponta do lápis da imaginação. Anteparo da queda. A extremidade do tato. O silêncio do corpo. O vestido do rosto. O desejo concentrado. A cortesia forjada. A varanda da janela. O ínicio do amor em 5 dedos por beijo e 24 toques por segundo.
A mão.
Wong kar-wai, a sútil e perspicaz voz que vem de Hong-Kong.
12 de out. de 2005
mon petit maître
Georges Bataille
10 de out. de 2005
erô(s) tori
p.s: Pinturas do filme Eros.
lição sobre arte
Antoine de Saint-Exupéry
tradução rápida: "A perfeição não é alcançada quando não há mais nada para se adicionar, e sim quando não há mais nada para se retirar."
9 de out. de 2005
acordei o sono da semana passada
Jamais vi Iboipeba florir.
Corri seus carnavais desengonçados
E seus homens de paletó, rosto firme
e o meu, de dar dó
Ah, eu ainda Morro de São Paulo
Me enterrem na quarta praia.
a vaidade do ego é vermelha
São Paulo, 2004.
Meu rosto é pequeno, só com uma mão dá para escondê-lo. Mas precisei de um corpo inteiro pra esconder minha alma.
5 de out. de 2005
moradia e moranoite
3 de out. de 2005
poemeto bobo
que eu te ensino, com louvor, a ser filho
me ensine, meu avô,
a ser homem
de barba-feita
cabelo penteado para trás
gravata com aquele nó que não mais se faz
me ensine a caminhar, sem tropeçar
e quando cair, a levantar
me ensine a não chorar por qualquer desvio
e quando chorar,
me ensine a nadar
borboleta
e voar
me ensine, por favor, a amar
e não fazer desse sentimento
mais um brinquedo de montar
não quero mais ler tantas instruções
p.s.: esperando godot - a melodia.
2 de out. de 2005
1 de out. de 2005
breve receita para emudecer
2. Hoje, de Moreno Veloso, na voz de Gal Costa, último cd.
"Eu posso esquecer,
Para ser mais feliz
Mas não vou mudar nada
De tudo que eu fiz.
É só não pensar em nós
Como a melhor parte de mim.
E eu quero chegar
A um dia dizer:
De tanto ficar só,
Vivo bem sem você."
*
Eu fecho os olhos para beijar. Mas, às vezes, esqueço, e fecho junto meu coração.
30 de set. de 2005
a falta de dinheiro é meu império vazio
28 de set. de 2005
Eu que velei seu sono
"Eu que conheci a altura dos vôos (...)
Agora tão perto de você, eu não sei caminhar."
p.s: A cena da foto, de Hoje é dia de Maria, é das maiores construções poéticas da televisão brasileira. Consegui os capítulos, e vejo-revejo. O pássaro que desce, o amor que eleva-se. Não ter televisão em casa não é de todo mau - mais cedo ou mais tarde acaba-se conseguindo os raros acontecimentos que valem a pena.
27 de set. de 2005
pensatas, repertórios e tristeza
. O querido olho-de-ouro Jodorowsky tem 11 lições para se fazer cinema. Um mago, muito lúcido - aquele que reluz. "Nunca trabajes en el papel tus movimientos de cámara. Llega a los sitios pensando que no vas a mover la cámara, que no vas a iluminar, que no vas a inventar. Llega vacío, sin la menor intención. Echa a andar el motor de la cámara y vive. No crees escenas, crea accidentes."
. "There is nothing but emptiness, the empty existence I exchanged for the truth."
Lu Xun, 1926.
. Amanhã, seremos grandes. Mas não se anime. Não seremos grandes sozinhos.
inveja
JP Coutinho, meu querido enfant terrible colunista português.
25 de set. de 2005
eré-hé
O ego é somente a cuíca deste carnaval.
p.s: gostaria de congelar os surtos de iluminura criativa e colocar na geladeira, pra poder tomar com sorvete, no domingo.
23 de set. de 2005
alexander pope
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd;
.
22 de set. de 2005
.
- acha mesmo fantástico isso? acho um desperdício.
20 de set. de 2005
das coisas
a poesia quer se relacionar com outros países. outros mundos.
será que preciso de visto pra entrar na poesia?
lembrei da música que fiz com juliano e maria.
"meu passaporte vazio de todo lugar"
14 de set. de 2005
Exibição de vídeo
Auditório Banespa, na PUC-SP
19/09 [Segunda-feira] 20h
Rua Monte Alegre, 984
Convite: http://www.cabezamarginal.org/amargo/amargo_web.jpg
Sobre o vídeo: http://cabezamarginal.org/amargo
13 de set. de 2005
de como eu conheci o alisson - II
To: Vitor Freire
Sent: Thursday, August 14, 2003 10:27 AM
Subject: Re: Are you the Walrus?
"Não acredito que elas invadam Verdadópolis" - pronunciou Verdade-Ingênua, com corajosa segurança diante de um plenário preocupado com a possibilidade de uma invasão do exército de Mentirópolis. Mas ao ser indagada pela Verdade-Experiente sobre como podia ter certeza disso, ela mergulhou em um silêncio constrangedor, pois era assim que as Verdades reagiam quando se viam impedidas de inventar uma resposta. "Ora, não estamos no congresso das Certezas" - gritou, lá de trás, uma das mais engraçadinhas. Os primeiros risinhos começaram a brotar. "O porta-voz de Mentirópolis jurou pra mim que não nos invadiriam" - confessou a Verdade-Ingênua, sendo soterrada por uma avalanche de risadas. Mas a Verdade-Experiente interrompeu a algazarra e com um olhar paternal profetizou à pobrezinha: "Se continuar a acreditar naquilo que lhe contam na mesma proporção com a qual diz a verdade, não tardará a mudar-se definitivamente para Malancolópolis". Todas concordaram.
Caro sr. Freire,
muitíssimo obrigado por doar, durante alguns segundos, suas retinas às minhas palavras. Elas mandam um colírio como agradecimento. Devo endereçá-lo para Salvador, certo? Pelo menos foi o que a realmente muito amável Mônica me contou. Eu, no entanto, sou de Belo Horizonte - conto caso, algum dia, queira saber mais sobre nuvens entre montanhas.
Pois bem. Dei uma espiada rápida no seu Cabeza Marginal e gostei muito do que vi. Li pouca coisa, pois, no momento, estou no serviço. Prometo dar uma vasculhada melhor mais à noite. Mas já adianto que aceito sim o convite para adentrar com meus neurônios nessa congregação. E o que tenho que fazer? Tem uma periodicidade para mandar textos? Vou ter uma coluna? Posso escrever sobre qualquer assunto? São oferecidos chocolates aos participantes? Prefere o Bahia ou o Vitória? Reparou na lua ontem? Para onde vão as unhas cortadas e os guarda-chuvas perdidos?
Bom... é isso. Aguardo suas respostas.
Trapézios e gangorras pra você,
alisson
Ps.: Adorei o texto sobre a Mentira. Tanto que escrevi um sobre a verdade, que é pra balancear.
choro para ser samba - samba para ser chorado
eu não quero a verdade.
Quero apenas algo para acreditar
Te digo, na sinceridade,
meu samba é sem respostas
minha dor sem vaidade
e se esconde em qualquer idade
Quero apenas algo para acreditar
Uma frase alugada, melodia de mão-beijada
Alguma coisa que eu não consiga duvidar.
Não, meu senhor,
eu não quero a verdade.
Quero apenas algo para acreditar
Alguma coisa que meu coração não consiga duvidar.
12 de set. de 2005
de como eu conheci o alisson - I
Enviado : quinta-feira, 14 de agosto de 2003 04:30:41
Para : bucolico@hotmail.com
Assunto : Are you the Walrus?
"Morte as verdades! Vamos matar todas elas!" - gritou no meio da reunião anual das mentiras.
E todas repetiram em coro.
Até que uma mentira representante da ala das 'as mentiras que contamos por amor', atacada por meses de depressão profunda, pediu a vez, soltou: "Não precisamos perder tempo com isso. Hoje em dia as verdades estão meio suícidas."
Doutor Ilustre You are the Walrus,
Por prescrição da infinitamente amável e gentil ilustre engenheira Mônica [http://missiva.blogspot.com], joguei duas retinas tontas no meio de suas palavras. Fiquei um tempo sem elas. Gostaram tanto do que sentiram, que ficaram por lá, deixando-me com a cômoda cegueira por alguns largos instantes. O fato é que elas voltaram, e trouxeram-me a vontade de escrever esse e-mail e mais, convidá-lo a participar de um projeto chamado 'cabeza marginal'. já ouviu falar? o link é http://cabezamarginal.org
Funciona mais ou menos assim: O cabeza é uma reunião de neurônios. [não, não é aula de biologia]. Assim, é como se fosse um site maior que coordena e administra [isso tudo é só teoria] as seções [pequenos sites] de artistas, grupos e colaboradores. A idéia então seria reunir seus textos e imaginarmos algumas características ilustrativas, como imagens e coisas do tipo, montando o layout da seção. Pense na proposta. Além disso, todos os participantes do cabeza podem fritar uns pastéis no nosso blog, http://cabezamarginal.org/cabezas
Aguardo retorno.
Grande abraço,
Vitor Freire
11 de set. de 2005
7 de set. de 2005
"eu quero um samba para me aquecer"
31 de ago. de 2005
prossegue-se
avô
Avô Mariano
No livro "Um Rio chamado tempo, uma casa chamada Terra" de Mia Couto.
30 de ago. de 2005
pequena história que a insônia acabou de me contar
No dia posterior, ele passou quase todo cansado, resolveu dormir um pouco para descansar, já que tinha feito todos os afazeres do dia.
Acordou cedo, mas ainda era o dia anterior.
"quem tem um búzio tem o mar"
pensata boba, mas legítima
Janela da alma? E quem nos observa através da janela?
hegel
23 de ago. de 2005
cinearrentino
. O povo argentino tem uma consciência política espantosa. Não é por acaso que a Mafalda é argentina. Um saravá ao povo de Piazzolla.
21 de ago. de 2005
cartas do edf. marcelo
O menino morava na rua do meio, era para onde eu enviava as cartas cheias de vergonha, medos de incompreensão e de saudade. Espera boa de distância de quinze minutos que demorava dias. Encima da montanha também tinha uma Rua do Meio, era onde ensaiava a filarmônica e onde tinha a venda em que eu comprava suspiro. E o menino também parecia música de banda e o suspiro ficava por conta... Mas ele saiu da Rua do Meio faz um tempo. Foi para as Ruas de Fora. Deixou escondida uma caixa cheia de papéis que vão se amarelar um dia... Só que o menino continua. Nunca ele vai se mudar da Rua de Dentro do meu Coração."
Escrito por Renata Rocha
18 de ago. de 2005
mi pequeña medulla
And be elastic, elastic, to be elastic for you
Where is the line with you ?
Bjork
16 de ago. de 2005
14 de ago. de 2005
fez-se mar
Alguém pra lhe dizer
O que qualquer dirá
Parece que o amor chegou aí
Eu não estava lá, mas eu vi"
Marcelo Camelo, Los Hermanos [Álbum 4].
6 de ago. de 2005
Do chão para o resto do mundo - I
4 de ago. de 2005
Quartzo escuro [Teatro]
- Acontecem?
- Acontecem, não acontecem?
- Destino
- Não tenho fé suficiente para essas coisas.
- [respiração ofegante]
- No mesmo dia que eu aprendi o significado da palavra PAI, aprendi também o significado da palavra LOUCURA.
- A loucura não diz tudo que faz. Não faz tudo que diz. [repetindo]
- Uma parte foi o médico que me ensinou. A outra parte, a ausência de minha mãe me fez entender.
Pai, Pai, Pai!
[ri nervosamente] - Passei tanto tempo chamando meu pai...Mas não tenho mágoas. Não. Pra quê? Não, não tenho. Até entendo. Entendo sim. Meu pai nasceu com uma idade sem fome, sem vento nem chuva, desde sempre existiu ali, num lugar que secou o tempo. Ele sentava cabisbaixo e reclamava:
- Já estou cansado de esperar a juventude.
O único jeito de entrar no mundo do meu pai foi permanecendo do lado de fora.
*
Quartzo escuro - Mostra de teatro de São Caetano do Sul
13/08 (Sábado) - 19h00
Teatro Santos Dumont
3 de ago. de 2005
23 de jul. de 2005
arquitetura da saudade
As lembranças devem estar dispostas de maneira a constituir uma fresta por onde a memória entre formando uma atmosfera simétrica e pertinente dentro do ambiente.
...
Minha saudade é uma favela.
19 de jul. de 2005
Auto da Paixão
Aceitai minha despedida
Espinhos soltos no chão
Mistérios presos no ar
Não desejei este cajado infinito
Anuncio a tua vinda.
Herdeiros do fim do mundo
Queimai vossa história tão mal contada."
18 de jul. de 2005
coliformes sentimentais
- Não precisou pertencer para existir, umedecer pra salivar, sobreviver para sofrer, nem sumir para se esconder.
Ela
- Um cafajeste fiel a solidão.
15 de jul. de 2005
Algumas pessoas sobre a mesma história - I
Depois do passado, do presente e do futuro, quê mais será preciso para o tempo desistir de medir minha altura? Silêncio, temos visitas. Quem é? Esses. Ora, mas esses estão sempre por aqui. É verdade, mas somos educados, devemos compostura. Moramos num silêncio alugado, e esses visitantes-inquilinos são nossa cara taxa de condomínio. Se fosse mensal, e não diário, talvez não fosse tão angustiante. Um desses tem ciscos de lamúrias no canto dos olhos, seu falar, mesmo quieto, rebaixa o ânimo de todos. Já estou cansado de esperar a juventude, disse dessa sina. Nasceu com uma idade sem fome, permaneceu sem vento ou chuva, desde sempre existe num lugar que secou o tempo. Era vísivel como gostava de conversar comigo. Evitava, mas qualquer bobice que eu escorregava, tinha moradia em sua admiração. Fui salvo pelo canto desafinado da gordinha que fazia parte do grupelho. Era uma gordinha cantora e portuguesa, ou seja, das primeiras vezes, quase a pedi em casamento tamanha emoção, mas depois, cansava-me o vocabulário sempre refém da saudade. E ela percebeu meu desdém. Perguntou-me, como quem denunciava-me de insensível, se eu não sentia saudade. Não, eu sinto sede. A portuguesinha calou-se implorando piedade. Não faltei com a verdade. Se a senhoritinha começar a chorar aqui eu vou te por no olho da rua, recebi o aviso de despejo do tio Bambo. Fiquei triste com o risco de cegar ao relento a qualquer lágrima da gordinha de Lisboa. Calei-me. Queria voltar a lhe perguntar sobre minha altura. O porteiro me consolou com alguma piada. Não, não era piada de português. Mas pelo interfone não consegui entender a graça. Voltei e sentei ao lado do senhor sem idade. Você não sente falta de comemorar aniversário, perguntei, apenas para mudar o vazio da prosa. Vai ter torta de morango no meu enterro, respondeu, juntando alguma felicidade.
O futebol e a emoção rouca
13 de jul. de 2005
Prestes? Maia.
- Mas mãe, eu não me importo de não ter teto. Queria é ter uma cama só pra mim.
O menino e as palavras
11 de jul. de 2005
1999, Tribos Jovens, Porto Seguro-BA
7 de jul. de 2005
Conversas com L - II
Mas tua barriga alimenta outras fomes.
6 de jul. de 2005
Egoísmo coletivo
"Aqui a desgraça não tem dono. É de todos. O mundo é isso e a gente tá mais perto do céu. Comunidade forte não entra polícia. Ninguém aqui cheira, porra! A gente só vende. Quem tem que cheirar e se fuder é esses filha-da-puta lá de baixo. Antes de ser brasileiro ou carioca eu sou do morro Dona marta!"
4 de jul. de 2005
As paredes conversam um teto
Às vezes até me espanto com minha perspicácia: era evidente que eu devia me calar diante da pergunta, e, logo em seguida ao silêncio, como se tivesse rezando para algum Deus, mostrar-lhe na minha face toda minha fé pela resposta que estaria por vir.
- Eu queria saber sonhar sem cansaço.
Respondeu. E pronto, era isso. A literatura não mudou o mundo, o cinema não mudou o mundo, a arte não mudou o mundo, Deus não mudou o mundo, a esperança - ainda espera a mudança do mundo, ninguém mudou o mundo. Mas o homem mudou, eu me repti, perdi a roupa, o pudor, fiquei nu, estava tão consistente entre aquelas paredes, o pequeno era toda a humanidade que eu já tinha visto. Sua história não interessa, não vou passear pela sua biografia porque para isso o preço a se pagar é caro demais: deixar-se adentrar. Era tarde demais. Eu fui socorrido pelo eco do pequeno. Falei de mim. Contei que eu era gente mas um dia fiquei com preguiça e virei aquilo. O pequeno ria de minhas bobagens. Eu sou bom de bobagens. Eu poderia viver de bobagens. Há emprego para bobagista? Não há. Nem quero. Bastava-me aquele teatro lotado, o público em pé, tudo isso concentrado nos olhos e no sorriso do pequeno. Não me intimidei com a platéia e falei de muitas bobagens, principalmente as bobagens de Jequié, a capital das minhas bobagens. O pequeno virou um sorriso. Tentei procurar o amargo novamente para não me corromper. O chão estava arado, capinado. A terra estava macia. E então o pequeno veio. E pisou. E se sentiu feliz para contar.
- É que cansei. Eu sonhava antes, sabe? Mas cansava muito. Acordava e nem conseguia correr, nem fazer o dever, nem ajudar mãe. Todo suado, pai ainda brigava pelos panos que davam de molhar da água de meu corpo. Parei. Era muita coisa, tanta coisa, quase não cabia tudo no sonho.
A breve biografia do pequeno era minha obra completa.
14 de jun. de 2005
Minha trilha sonora
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mais achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barrigada miséria
Nasci brasileiro
(...)
Deus me fez um cara fraco
desdentado e feio
Pele e osso, simplesmente
Quase sem recheio
Mas se alguém me desafia
E bota a mãe no meio
Eu dou porrada a três por quatro
E nem me despenteio
Porque eu já tô de saco cheio
[.]
- Chico Buarque é meu verdadeiro pai. Cássia Eller era minha irmã?
6 de jun. de 2005
A botinada no chão
Manoel de Barros, Livro sobre nada.
[mis notas sobre soledad]
Não tenho tido mais pressa nesses tempos pois comprei uma bota nova. Segredo de alpercata, repassado pelo velho Gavião. Enquanto a botina é nova, teu piso é de cuidado, há estima pelo dinheiro investido, é por consequência um andar mais atento. Também não fui de acreditar em bobices. É que no andar mais atento, acontece mais coisas pelo caminho. Assim, há agora esse disse-não-disse com a velharia da igreja. Continuo sem entender as rezas estarem sempre miradas para o céu, quando, é no chão que se pode ler a antologia do mundo. Há um terreno do entendimento díficil de pisar sem aterrar - ainda mais eu que agora tenho minhas preocupações de botina nova. Observo o umbigo dos guris. Uns maltratos, vida de coisa díficil, dou graça que sobrevivi no limbo da meninice e a barba de bigode. A infância é tão traumatizante que veja só o que gera: adultos.
4 de jun. de 2005
Um casal de solidões
Mia Couto, O último voo do flamingo (p. 140).
[mis notas sobre soledad]
- É que há um limite. Passado este, não se enxerga mais homem.
- Não entendo, era tudo muito sem dúvidas antigamente. Hoje, já desconheço mais esses que fazem a gente.
- É impressão, perceba que continuamos os mesmos, um pouco mais evidentes, mas os mesmos.
- Vejo alturas mas não enxergo mais homens. É uma doença?
- Não. Se isso não te matasse tanto, diria até que é remédio. É que seu olhar ultrapassou a miúdeza dos homens. Tente se distrair com os pássaros enquanto sobrevivemos.
[...]
J.D. Salinger e Paul Auster
3 de jun. de 2005
Soundtrack
Recebe debaixo da porta. Sim, o CD conseguiu passar. É a trilha sonora do nosso amor. Escute de olhos fechados. Dizia na capa. A primeira música tinha uma nota só. Sim, ela conseguiu. Conseguiu colocar naquele CD o audio do nosso amor. Das músicas românticas aos gemidos - nunca soube porque ela gravava. Estava tudo ali.
De repente, uma música engasgando no aparelho. O CD do nosso amor estava arranhado, na metade.
Foto de minha amiga T. Cangussu
31 de mai. de 2005
Minha família inventada
A melhor parte de mim
É quando a ausência tem chão. E você pode cair, deitar, pular. Minha mãe, quando em ausência, corrompe a física. Veja como realmente ela não poderia mesmo continuar casada com meu pai. Hoje me peguei falando sozinho. E ela respondeu. Um susto. Bobo. Não sabe? Quando falo sozinho estou falando com minha mãe.
Saudade.
Dos surtos da escrita
Não bastasse os gritos, "Vem meu jiraya", "Me come meu jaspion", o último cliente da Vaneide usava cueca do Cebolinha. Para não ter maiores problemas com a justiça, além de mostrar o RG, vamos pedir pra baixar as calças antes de subir. Aqui, pau pequeno não paga meia.
Publicado originalmente em "Porra, não goza na cara".
30 de mai. de 2005
Projetos em andamentos - I
Tenho um irmão abortado que resolveu nascer em mim. Teve medo de caminhar pelo trajeto que eu já tinha feito. Estraguei minha mãe por dentro. Em mim, ele pôde nascer sem precisar sair pra fora.
(...)
25 de mai. de 2005
Conheço Cuba e não sabia: Fotografia de meu amigo Rosel Bonfim
A primeira vez que entrei no bar do Gavião em Jequié, eu não me lembro. Na décima ou décima segunda vez, já me passeia na memória um dito. Corria a lenda que eu tinha tomado cachaça na mamadeira. Era neto de seu Vadinho. Quase uma pinga de gente em garrafa condensada. Minha infância corria mais que a lenda. Eu, a mentira e os anões, tinhamos pernas curtas. Mas o que levanta a poeira e bagunça o barro é a firmeza do pé não a largura do passo. Era minha primeira bebedeira. Licor de Jenipapo. Gavião tinha sobrancelha prima da minha. Quando levantava a dele, abaixava a minha. E vice-versa. Se tirassem melodia das nossas sobrancelhas, seria uma música tensa. E ele alinhavou:
- Eu quase fui você um dia. Dei azar. Agora vai. Vai seu porrinha. Vai e faz direito o que não eu não fui.
23 de mai. de 2005
Originalidade linear
22 de mai. de 2005
Existe uma pequena viagem sem volta escondida no piscar dos olhos
Ele fechou os olhos. E nunca mais se encontraram.
19 de mai. de 2005
O último voo do flamingo
Aproximando estranhezas
Poucos dias depois, na esquina da Haddock Lobo com alguma alameda nos jardins, o sujeito de branco espera. O homem das havaianas chega. Um repasse misterioso de dinheiro. Entrega os óculos e um punhado de papéis que ele tinha levado para decorar. Deu tudo certo? Sim, sim.
18 de mai. de 2005
Viajar ao passado é comprar passagens para o futuro
[Fade in] Silêncio, graduação do desespero
16 de mai. de 2005
Opinião: Gerald e Nanini
Circo de rins e fígados.
15 de mai. de 2005
A conversa
- Ela vai acumulando funções: Amiga. Parceira. Minha produtora. Atriz dos meus filmes. Meu amor!
9 de mai. de 2005
Tampax metáforico
Quando finalmente engravidou, ficou cega.
8 de mai. de 2005
Porque o samba ainda insiste em mim
Pensa que estou alegre
O meu sorriso
É por consolação
Porque sei conter
Para ninguém ver
O pranto do meu coração"
Cartola
5 de mai. de 2005
Uma frase recebida
4 de mai. de 2005
Bold or italic
Até meu silêncio quer dizer algo.
1 de mai. de 2005
A cada dois copos, três para meu avô
29 de abr. de 2005
Insônia, incompreensão, incoerência
Eduardo Galeano
27 de abr. de 2005
A força jovem da poesia gaúcha e o xamanismo poético amazonense
Vicente Franz Cecim - O real é aquilo que nos sonha.
Besta é tu, besta é tu
O lugar mais seguro que conseguiu imaginar para enviar seu coração foi a memória do seu avô. Poucos dias depois, o pacotinho, de volta. O carteiro era seu amigo de infância. E mais, tinha sido o autor do apelido.
25 de abr. de 2005
Valid only in Mind
Entrada de emergência
22 de abr. de 2005
Olhares, encanto, álcool e intimidade
Elas não sabem, mas minhas histórias nascem dessas iluminuras do cotidiano. Estarão em algum filme ou texto. Em algum sorriso ou bocejo. Em algum desvio de mim, ou eu por inteiro.
21 de abr. de 2005
Deixe eu ser rídiculo, por favor?
15 de abr. de 2005
14 de abr. de 2005
Um ilustre desconhecido, Charles Mackase.
“Encontramos comunidades inteiras que fixam de repente suas mentes em um objeto e enlouquecem à sua procura, que milhões de pessoas se tornam simultaneamente impressionadas por uma ilusão e correm para ela, até que sua atenção seja atraída para alguma loucura mais cativante que a primeira. Vemos uma nação de repente tomada, dos seus membros mais altos aos mais baixos, por um feroz desejo de glória militar; outra de repente se tornando enlouquecida em função de um escrúpulo religioso; e nenhuma delas recobrando seus sentidos até que tenham derramado rios de sangue e semeado uma colheita de gemidos e lágrimas para deixarem todo proveito a ser obtido somente por sua posteridade. Numa antiga época, nos anais da Europa, sua população perdeu o juízo sobre o sepulcro de Jesus e se reuniu em multidões frenéticas para procurar a Terra Santa. Em outra época, enlouqueceu por medo do demônio e ofereceu centenas de milhares de vítimas à ilusão da bruxaria. Em outro tempo, muitos se tornaram dementes a respeito da pedra filosofal e cometeram loucuras até não serem mais ouvidos em sua busca. (...) O dinheiro novamente tem sido muitas vezes a causa da ilusão das multidões. Nações sóbrias tornaram-se todas aos mesmo tempo jogadoras desesperadas e quase arriscaram sua existência num lance por um pedaço de papel. Traçar a história das mais proeminentes dessas ilusões é o objetivo dessas páginas. O homem, já se disse muito bem, pensa em bandos e se verá que eles enlouquecem em bandos, ao passo que só recobram a lucidez lentamente, e um a um."
11 de abr. de 2005
10 de abr. de 2005
5 de abr. de 2005
3 de abr. de 2005
Pensata portuguesa
José Saramago
1 de abr. de 2005
Um adeus vestido de bom dia
Arte y vida
ART NEVER SLEEPS
...pero sueña de ojos abiertos.
28 de mar. de 2005
A face piegas da paixão
27 de mar. de 2005
Estilhaços de Montreal
26 de mar. de 2005
23 de mar. de 2005
Sempre que vou a matemática, não volto.
Ela observa, encantada. Não há nenhum número em seus olhos.
Prevert et Gainsbourg
Antoine de Saint-Exupéry
Cette chanson était la tienne. Quatro olhos, dois olhares, o mar. Ele não transborda, permanece. O mar não aceita interlocutores.
22 de mar. de 2005
Breve descoberta
Está quase morto.
21 de mar. de 2005
20 de mar. de 2005
Vestígios
.Confesso que já procurei na farmácia um suícidio sem efeitos colaterais, nos outros.
.Minha vaidade está quase toda em meu nome. Quando anônimo, sou muito humilde.
.Quando tinha 16 anos procurei uma profissão que não precisasse trabalhar. Encontrei, mas tive medo de fazer o vestibular ao ver a concorrência.
.Ao não ser batizado, meus pais me permitiram qualquer Deus. Há um carnaval deles em mim.
.Às vezes, um elogio é o pior crime que se pode cometer ao ego do outro. Não há legítima defesa.
Para Lamenha
"Com medo ninguém consegue escrever ..."
Clarice Lispector
19 de mar. de 2005
Cartas - Diálogos sem travessão II
Nathalie Quintane
Cartas - Diálogos sem travessão I
Adolfo Navas
Navalha
[Adêmiro chora]
Tá vendo o chão aí todo navalhado de sol, quieto, calado, cê arranca um toco e ele nem nada. E você, me acentue essa desgramêra!
[Adêmiro limpa as lágrimas]
- Tião, se eu me navalhar e virar chão você promete num rancar toco de mim?
[Tião pasmo.]