13 de fev. de 2006

rascunho de terra

Ela está cavando os dedos. Não permite a unha errar. Profundamente pele sobre terra. Algo determina o ritmo. Quase musical. Busca variações, mas atenta para sintonia do movimento. Ela cava os dedos com as mãos enterrando-se. O homem está observando sonolento tudo aquilo. O homem é irrelevante. Ela tem relevos. Busca cavá-los. Eles se amam. E terra. Enterram. Soterram. Erram. O quintal é imaginário. O jardim é plano em comum, demorou 5 anos até ganhar os sonhos. Não há flores visíveis. Nem mesmo ao olho complacente dos sonhos. Eles se amam tanto. Foi preciso então irem juntos aquele jardim. Ele está sonolento no sonho. Porque dorme de pé. Porque sonha acordado. Dormem na mesma cama, sonham em quartos separados. Foi preciso então chorar essas lágrimas sem gosto. Ela descansa um pouco. Eles se amam, não muito, nem pouco. Eles se amam a exata medida que foi possível. Eles amam-se dentro da possibilidade. E chamam isso de amor porque é o único vocábulo confortável. Ela cavou todos os dedos. Agora, pronto. Ele deita seus pés sobre o buraco aberto. Ela cavou seus próprios dedos para enterrar os pés dele. Ela suspira como se soubesse que aquilo não era apenas um sonho. Doeu, um pouco, ela alerta, com os olhos. Ainda dói, ele complementa, de olhos fechados.

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