4 de nov. de 2007

anotação recuperada

"Eu poderia voltar a falar de todas as coisas que me fizeram chegar até aqui. E seria, novamente, inútil. Primeiro, porque chegar aqui foi resultado do que não fiz, do que deixei de fazer, do que deixei de falar, do gesto que deixei de arriscar, da palavra ousada ou da arrogância errada. Não é uma questão de arrependimento, ressalto. Pelo contrário, é como olhar para trás e vislumbrar como todos os passos não dados foram fundamentais para essa trajetória. Também não é uma ode ao erro. Porque o equívoco é sempre um mistério, uma incógnita: nunca sabemos ao certo o que fazer após um erro. Pode vir a ser o pressuposto para o acerto, um aprendizado, um arrependimento. O equíovoco nunca mostra sua face no primeiro encontro.
Pensando no que fiz, no que não fiz, no chegar aqui. Talvez chegar aqui seja uma ilusão passageira. Uma composição geográfica para me advertir novos ares, um esperado retorno ao meu país dentro de uma cidade irreconhecível. Aqui, as pessoas são sempre irreconhecíveis. Quando cheguei nessa cidade pela primeira vez lembro da sensação estranha que dá no ouvido, ao descer do avião. Mantive aquela sensação estranha, como uma náusea acolhida, um zunido pra dentro, um incômodo que se torna amigo, durante todas as férias. Não tive coragem de reclamar ao pai distante. São Paulo pra mim era aquela sensação, quando o avião pousa. Uma inusitada, nova e estranha sensação. Com o estranhamento ao meu lado, cheguei aqui."

25.09.2002
pequena anotação recuperada pouco depois de chegar em São Paulo.

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