28 de ago. de 2008

pra gaveta

Cada um carrega uma identidade da dor. Não como um RG, com números e uma foto sempre desatualizada. E sim um terreno abstrato que reflete suas experiências nesse universo de sofrer. Por isso algumas coisas nos marcam e nos emocionam mais que outras. É como se sua dor se identificasse com outra, e elas se cumprimentassem. Por isso o choro é sempre algo que não nos pertence, não há um controle do corpo sobre. O choro pertence a essa nossa outra identidade.
É isso que sinto as vezes, mais do que uma falta de controle, mas é como se a dor não me pertencesse. E sim o contrário. Por isso quando recorro a memória e vou nessa sensibilidade ignorante e tardia refazendo caminhos equivocados. Despedidas mal feitas. Aquela frase que poderia ter sido mais branda. Uma sisudez desnecessária para sua mãe que você pouco vê no ano. Uma jogatina de palavras vãs em discussões pueris com aquele amor. Aquela história que poderia ter dado mais passos adiante se a firmeza dos meus pés não fosse tão agressiva em momentos que bastava dar um pulinho, como esses que a gente dá na poça em dias de garoa simbólica. Alguma dureza em lidar com o pai quase que o punindo por sermos tão parecidos em pontos que não me agrada. Uma precipitação. Isso não é um vendaval qualquer de pequenas desgraças. Isso é o que compõe essa minha identidade da dor. Aquele último abraço que não consegui dar no meu avô. Não se reconhecer em sua própria dor é ser anônimo de si.



Nenhum comentário: