9 de out. de 2008

Quase sentido

A beleza do sexo sem sentido não está na volúpia do instinto, nessa vazão ao que somos bichos. E sim, na permissão que nos damos a ignorância incompleta, já que nem como meros bichos regidos por instintos estamos completos. Permitir-se incompleto, permitir-se essa ignorância, do ato, do suor, da força do tesão e ponto. Esquecer-se do sentido.
Talvez por isso o dia posterior seja definitivamente um entrave na nossa trajetória de bichos. Porque o sexo sem sentido exige renúncia total: tanto das emoções demasiadas quanto das razões equilibradas. Sem sentimentos, sem reflexões.

Eu sei que o sexo é sempre algo sem muito sentido. Está em sua essência. É a incompreensão do corpo, uma dança que está sempre buscando novos ritmos, cansa fácil das coreografias certinhas ou dos passos engessados da dança de salão. Mas mesmo perdido, ele caminha conosco até certo ponto. Até a virada da esquina da alma. Ali, existe um vento frio que serve de porteiro dos sentimentos. Movimenta o corpo por dentro e por fora. Quando há qualquer coisa sem nome, sem face, sem idade, qualquer coisa que simplesmente transcende. E o dia posterior faz todo sentido do mundo. E a gente acontece. E a partir daí, qualquer sentido torna-se irrelevante. Sentir já demanda todo o corpo.
Por isso, mesmo reconhecendo toda a beleza que pode existir no sexo sem sentido, confesso esse desconforto. Com esse vento frio me barrando na esquina. Sem sentimento, o dia posterior me torna ainda mais só.

A solidão é uma desgraça na alma. Mas é uma desgraça honesta. Nesses tempos, impossível não reconhecer o valor dessa virtude.

Nas noites sem sentido, não existe honestidade. É preciso muita sinceridade para ser desonesto consigo mesmo.

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