9 de jun. de 2009

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De um lado, o amigo rude, dono das verdades cortantes. Se a sinceridade legitimasse nossas ações, aquele seria um sujeito completo. Mas não é o caso, e o mote "só falo a verdade" pode esconder uma crueldade que pede distância. Ou pelo menos que se estabeleça algum tipo de pacto no vínculo: até aqui, compartilhamos verdades. Daqui em diante, seguimos em mentiras separadas. Vidas separadas. Provavelmente bons conselhos saem daquela boca. Mas como é díficil ouvi-los quando o objetivo daqueles verbetes serve mais para sua auto-afirmação do que para se aproximar do outro.

E do outro lado o irmão que não sabe onde colocar as mãos. Não sabe onde colocar as palavras. Toda aquela ternura desmedida, que não sabe pegar o metrô e chegar ao outro. Perde-se pelo caminho. O amor é sempre uma cidade estrangeira, então ele se apega as pequenas vitórias, como chegar até a padaria da esquina e conseguir pedir um café. Chegar ao outro e dizer-lhe do seu afeto, do seu amor, seria praticamente como chegar em Nova York com aquele inglês da escolinha e na primeira noite estar ouvindo versos apaixonados de uma artista "experimental" no jardim botânico do Brooklyn. E apenas com olhares, deixá-la plena em sua volúpia. Não é um exagero. Aquele era um sujeito do bem, apesar de suas doses exageradas de bom mocismo e essa sina de querer carregar o peso do mundo nas costas. Muitas vezes conseguimos supor o quanto aquela pessoa provavelmente deve gostar da gente. Mas, nesse quesito afetivo, digo com a pior das propriedades possíveis, suposições não enchem barriga.

O primeiro diz: tem que meter a boca mesmo. Falar umas verdades.
O segundo retruca: não, cara, tem que ajudar, o que falta é alguém pra ajudar.

Esse que vos escreve diz: Mais "verdades" só vão causar mais repulsa. E ajudar? Você não é nenhuma madre teresa.

Ao invés disso: Aproxime-se.

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