30 de set. de 2005

a falta de dinheiro é meu império vazio

são cinco horas e não interessa os minutos. são cinco horas e não interessa o discurso. não, eu não estou tentando. estou apenas descendo a avenida judia no bairro judeu, na rua onde mora eu, baiano, caótico do sexo masculino, uma-banda do vendaval caboclo, a pobreza é que não existe uma só pobreza: percorro pobrezas paralelas, estou na transversal, mas não tenho mão para erguer - parar o ônibus, chamar o táxi, acenar a mulher, assassinar o vento. isso tudo converge do profundo desgosto pela falta de dinheiro. é sim. a hipocrisia das meninas que por acaso são ricas, e o modelo do carro dos meninos que por descuido, são milionários. e são isso, só isso. eles possuem inúmeras pobrezas paralelas, mas passam em alta velocidade pelo sinal vermelho. Eu estou a descer a rua e fico triste com apertinhos de mão, batidinhas nas costas, eu quero ser corrupto e nojento, eu quero que paguem minha conta bancária. Eu quero dinheiro e não elogio. Eu quero ser rídiculo e não promissor. Minha desgraça é que a mediocridade me incomoda mais do que a pobreza. Alguém me passe uma oportunidade com manteiga, eu quero comer, eu quero olhar com desprezo para cédulas de 100 reais. Eu quero ser rico por uma semana, pelo menos - fazer tudo que tenho aqui planejado - depois volto a ser pobre, mas deixo viva minha realização. Eu quero ser idiota. Eu posso. Eu sei que posso. Eu quero ser idiota profissional. Que merda a arrogância, que merda a inteligência. A poesia é um crime contra meu bolso. E não me levam preso, porque a cela do Maluf na PF seria minha mansão. E não me levam, porque eu não sou tão interessante. Sou pequeno, magrelo e tenho sotaque baiano. Eu estou bêbado são cinco horas e não importa os minutos - importa que eu estou puto com a falta de dinheiro que assola meus sapatos. Meus e de João Filho. Vou dormir, amanhã eu acordo.

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