8 de nov. de 2005

anterior mente

O castigo refez o crime. Ele está aguardando a pena para abstrair a palavra. Vá para cadeirinha-de-pensar, sentenciou a única adulta da sala. Ficava de frente para uma parede branca com detalhes de azulejo bege. Ninguém conseguiu contar quanto tempo durava aquele castigo. Era o tempo necessário para se perder a conta. Percebeu que se não aproveitasse aquele tempo do castigo para fazer outras coisas além de pensar, não conseguiria dar conta de tudo que era preciso fazer na infância. Na sala, ao fundo, estava lá, um pequeno trono do desespero virado de costas para o resto dos alunos. A cadeirinha de pensar. Era rei absoluto daquele império bege sem lição-de-casa. Assim, inaugurou seu mais íntimo exercício de criação, de frente para parede.

Foi tão convincente, que não conseguiu enganar.

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