7 de mar. de 2008

ciranda insana

Entre todos os quereres, não quero mais. Querer. Solte a mão porque a rua já nos atravessou. Sem rumo. Todo amor é perdido, inconveniente é essa sina por enquadrá-lo, dar-lhe certeza e segurança. Frequento olhares eufóricos, ainda aceno para os desvios de olhares, certos assuntos não se comportam bem na mesa. Do bar. Ainda há a vã tentativa de mudar de mesa, de mudar de bar, altera-se a cor da bebida. Uma trégua, escuto ao fundo. O amor pede uma trégua. Me esqueçam, pelo menos essa noite. Corra, com o puro delírio do corpo. Descobri que no frenesi dos passos rápidos, na corrida, acabo por me distanciar da minha cabeça. O suor é sempre nosso parente mais autêntico. Aquele tio que acumula verdades durante o ano, e sem medidas despeja na ceia de Natal. Invento famílias pela observação. Meu avô era minha família inteira e agora sou órfão do meu filho. Meu pai não é minha família, meu pai será sempre algo de mim que foi além. Minha mãe nunca foi minha família, mesmo quando tentou ser uma família inteira. Família é esse embaralhado de vínculos, esses valores estranhamente preservados, obrigações delicadas, prazeres e falácias sobre sangue do meu sangue. Minha mãe é tão anterior a família, que nunca consegui entender ao certo o porquê da família. Já não cabe mais aquele clichê de filho de pais separados. Eu sou o filho separado de pais que nunca se reuniram. Persisto o equívoco, errar também é um desafio. Já quase não sinto fracasso. Levanto os olhos, revejo antigos e novos amigos, busco fora do tempo aquelas esquinas onde tudo corria com um pouco mais de vida, mais amor, menos fé nessa maldita eternidade das relações, um pouco mais de descuido, porque o cuidado também tem esse efeito colateral: engessa. Não há fórmulas secretas e quem já não as procurou: seja nos livros de auto-ajuda, nas fileiras da igreja prometida, nas terapias de tantas vertentes. Não há como condenar. Fui uma criança sem parâmetros. Díficil. Os amenos diriam, "muito vivo". Os julgadores, "um capeta". Decepei uma plantação inteira apenas para provar que existia sim um jiraya na Bahia. Meu avô não disse uma palavra. Dezena de anos depois, a única frase de ressalva sobre mim: "ás vezes você é muito crítico". Sou tão exigente comigo, que muitas vezes transborda ao outro. Um sozinhamento cruel que estipula suas próprias capacidades e define limites arbitrários, e impiedosamente pune cada passo que não for consistente suficiente para chegar lá. Inevitável que ao meu redor, isso escape. Estar sozinho há muito tempo deixou de ser ato de auto-suficiência ou requinte de egoísmo. É o caminho mais legítimo para chegar ao outro lado. Ao outro. De frente. 

De repente.

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