8 de fev. de 2009

Carnudo

Sentei ao seu lado pela semelhança. Ele assemelhava-se e não sei direito com quem. Existem pessoas que simplesmente lhe trazem uma aproximação, lhe lembram alguém, não se sabe nomes. Ele tinha semelhança por algo que me despertou algum afeto. E bastante confiança. Pois sentei.
Quando ele arqueou a sobrancelha eu já sabia que falaria pouco mas seria uma fala importante. As pessoas que sabem usar bem a sobrancelha, em geral, falam menos, mas falam bem. Acho que economizam na expressão do olhar algum sentido, e as palavras enriquecem-se na potência da boca. Esperei um pouco. Tive paciência, e isso me deixou feliz.

Ele contou que domingo para ele era como reveillon. Incerto, a semana era seu próximo ano. Domingo findava uma jornada, o sol nascendo na segunda lhe comovia. Ficou quieto um tempo e então lhe perguntei se isso era um jeito que ele encontrou para achar que vivia mais. Ele balançou a cabeça. Na verdade, era só um jeito de dar mais valor ao pouco tempo que lhe restava. Ele não conseguia viver direito sem ter essa esperança com relação ao tempo. Esse sentimento tão comum aos finais de ano, como se houvesse uma segunda chance ou uma nova possibilidade de fazer coisas.

Acreditar é um verbo carnudo, finalizou. Ele sorriu com poucos dentes, mas nada me tira a sensação de que aquele verbo combinava muito bem com aquela boca.

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