15 de nov. de 2009

Meu jovem

"Nesses tempos, meu jovem, o mais díficil é fazer as pessoas se encontrarem, se abrirem, expressarem seus sentimentos, se permitirem." Achei bobo, não gosto desses pensamentos que começam diagnosticando o tempo presente. Não há ninguém com suficiente qualificação para tal radiograma, tão amplo, tão complexo. Ele não gostou de ser contrariado, mas ficou surpreso, acho que no fundo ele gostou do meu argumento. E concordou depois de alguns instantes. "Você é esperto, meu jovem. Então vou te dizer: desde os tempos das cavernas, essa história de se relacionar tem sido um tormento, uma profunda dificuldade, que nos move e nos derruba, faz a vida se encher de sentido e ao mesmo tempo é capaz de roubar qualquer sentido que você tenha encontrado. Eu sei disso, não precisa vir com esse olhar de jovem solitário." A solidão é subestimada, eu disse baixinho, quase querendo que ele não tivesse ouvido. Mas ouviu. Justifiquei dizendo que tinha acabado de assistir um filme com essa frase. Ele continuou. "O que estou tentando te contar é simples: tenha muito cuidado com essa parafernalha que diz conectar as pessoas. Existe uma parte essencial que jamais a tecnologia, esse teu celular, esse tal de "tuiti" - falou com um tom obviamente debochado de quem sabia a pronúncia correta - vai dar conta. É só isso que estou dizendo. Tome cuidado. A sua palavra tem que ter verdade e sentimento em qualquer lugar. Seja na sua boca ou numa tela de computador."

Faz tempo que não consigo mais escrever as coisas que sinto. Já culpei a falta de tempo, o stress do trabalho, algum desconforto aqui e ali. Mas a verdade é que não sei. Antes, não saber era motivo suficiente para escrever, expressar, rabiscar, fazer um filme do olhar que me insiste.

Aquele senhor não deveria ter mais do que sessenta anos. Ele levantou, apertou minha mão firme e ao mesmo tempo com a delicadeza de quem sabe das coisas. Acabei lembrando do meu avô. Fazia tempo que não tinha uma lembrança tão forte dele. O senhor se despediu dizendo:

- A cada dez vezes que você tiver com medo, com vontade de ficar dentro do seu apartamento, sem sair da cama, sem conseguir dormir incomodado com algo que você não se sente capaz de mudar...a cada dez, tome uma decisão, mude algo, saia do apartamento, fale o que você sente. É uma boa média. Se cuide, meu jovem.

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