7 de fev. de 2011

Um dia minha mulher

Eu erro no ínicio e no fim. Nunca consegui admitir isso. Pouco tempo, você já me arrancou essa confissão. Talvez esse seja momento para confissões. Adoro seu nome. Imaginar chamá-lo pela manhã me dá esperança e força. Eu troco o fim pelo ínicio. Eu tento confundir os dois, misturo os vocabulários. Ao querer alfabetizar o ínicio, desse dialeto do fim, me alimento de uma língua que carrega eternidade. 

Eu sei o seu cheiro, eu decorei seu tato, interpretei seu cabelo, há uma arquitetura sólida formada somente com os desenhos da sua boca e das suas mãos. Respiro, e não há mais razão, já temo não passar de ano, perder nessa matéria, tropeçar no dia da prova. Me repetir desse instante letivo. 

Deixar de lado as imperfeições poéticas que você me imaginou, para recolher as reais imperfeições, parece ser um caminho longo. Escrevo, agora, querendo terminar logo. Mas isso é meu desejo tardio, minha certeza precoce, de que  ainda te escreverei muito.

O corpo treme, cansado, sobrevivente da devassa do álcool na noite anterior, mas reuniu forças para vir aqui. Eu queria arrumar as coisas na minha cabeça, mas percebi que não tinha nada a te dizer. Tinha o mundo inteiro para nos contar, queria que a escrita organizasse algo. Não há o que ser organizado.

Eu sinto a confusão. Não há entrelinhas aqui. Eu queria apenas gostar de você. Para ser mais leve, para ser compatível com o tempo presente. Mas, não. Eu quero construir essa confusão contigo. Com seu sorriso, com sua voz, com suas palavras. 

Eu sempre escrevo para inventar quem eu sou. Hoje comecei a escrever para te esquecer do que sou. 

O ínicio e o fim são ilusões. Somos sempre dentro.

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