1 de abr. de 2005

Um adeus vestido de bom dia

Primeiro descobriu a revelação e só bem depois conheceu o segredo. Sim, sua memória era sua mais profunda tristeza. O braço avisava as palavras a mão através do egoísmo dos dedos, impaciente como sangue, nas veias. Quatro paredes conversavam uma casa, o silêncio era o teto, por isso confundia a lâmpada com a lua e sentia o frio do relento. Você me machuca – ouviu o eco. Dizia Eu te amo e o espelho fazia cara feia. Sua genialidade então era isso: a competência em reunir ignorâncias desconhecidas dando-lhes a intimidade de uma família. Até quando? Retornou sem bagagem, e se tornou aquilo no meio da sala. Viajou algumas vezes, mas seu visto para ir ao quintal tinha perdido a validade. O mato escrevia sua moradia com descaso e desejo. Entre dois amores descobriu um resto de algo. Sua força estava toda nas palavras, sua pouca auto-estima não lhe revelava na folha em branco nenhum músculo. Seu pior pesadelo não era um dia acordar analfabeto, era viver trancado numa biblioteca. Não teve paciência parar continuar na urgência da vida.

Nenhum comentário: