20 de dez. de 2010

Eu te quero

Eu sempre te quis. Não te amo mais, não quero mais morar ao seu lado. Mas eu sempre vou te querer. Você não entendeu isso. Fez sentido. Mas não mudou em nada isso. Você me chamou de canalha. Depois se arrependeu, me trouxe ao nível de leviano. Meses depois, imaturo. Hoje você diz que sou apenas efêmero, deliciosamente efêmero. Eu desci na escada das suas gradações masculinas como um menino arteiro. Eu nunca te contei, mas cai muitas vezes entre esses degraus. Acha que meu joelho não pegou sangue quando fui de canalha a leviano? O sangue não obedece o tempo, só o coração. Sempre que te encontro, repito nosso mantra: Eu te quero. Você sorri. Quando está solteira, você cede. Quando está comprometida, você cede mais ainda, mesmo não voltando pra casa comigo. Foram anos dessa sua narrativa de mim. Essa minha covardia poética. Esse deslumbre tímido. Por dentro, sempre me orgulhei por ser alguém tão pequeno e feio e conseguir dispender tanta energia tua. E de algumas outras, antes. Algumas outras depois. Mas só a tua energia me trouxe luz. Eu não te amo mais é o novo Te amo para sempre. Eu não te amo mais, porque seria impossível. Se fosse possível, te juro, falaria apenas: Não consigo te amar menos. E talvez você entendesse meu recado. Eu te quero. No meu mundo isso é mais romântico do que qualquer carta prolixa que eu te escreva. Ou qualquer dança em plena rua, com sussurros passionais no seu ouvido esquerdo. Internamente, eu decidi que o seu ouvido esquerdo seria o desleixado. Aquele que receberia sem discernimento o que me desse vontade. O ouvido direito receberia sempre algo que tivesse passado por muito pensamento, cuidado, reflexão. Durante todo esse tempo, eu só te disse uma coisa no seu ouvido direito.

Eu te quero.

Mas eu não te amo mais. E me despeço subindo a rua dos cinemas de pessoas inteligentes, desviando de toda sorte de gente, com azar para tropeçar em minha própria trajetória. Quando eu não estiver mais aqui, peça uma bebida que você nunca experimentou e lembre-se de mim com carinho. Lembre-se que eu sempre te quis. Depois, jogue isso em algum vão da memória e faça como você sempre fez: me observe com esse olhar incapaz de se aproximar.

E assim segue, o homem-menino regido por suas motivações preciosas, mas tropeçando na inércia da sua masculinidade.

Eu não te amo mais. Nunca e mais.

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