7 de jan. de 2011

Cemitério

Sou um cemitério pelo avesso. Meus mortos estão em covas rasas: afundaram na superfície. Carrego meus indigentes com o carinho de quem se desconhece pela semelhança. No espelho, fico aliviado quando não me reconheço. A morte só pesa por fora, tudo por dentro tem intenção de vida. Preciso inventar minha vida, não posso continuar a aceitar as lembranças sem as cicatrizes de minha criação. Tudo que não invento é refém da minha memória. E minha memória é um segredo sem cofre.

Nenhum comentário: