31 de out. de 2005

226


Terminei. 226.
Era o número de azulejos azuis. Esperei alguns instantes, mas ninguém tinha visto, ninguém para parabenizar. O banheiro fedia o mofo do quarto. Então os cabelos reiniciaram seu cotidiano hábito, pedindo perdão ao shampoo. A sala tem gordura da cozinha. O almoço esfria o corredor e desabotoa a carne das saias. As saias vestem primas desejosas. No corredor, passos lentos, correr é uma ousadia contra o chão encerado de Dida. E concede o atalho para fora, mas ainda dentro. É a varanda, que nunca admitiu ser cemitério dos brinquedos, chegando a cuspir crianças pra dentro da casa. O barro molhado nunca saiu completamente das mãos. Nenhum joelho saiu ileso do mármore que une a sala ao corredor. Apenas o silêncio vergonhoso das visitas comentava aquela união promíscua. Os joelhos são sempre os móveis mais antigos. A mão é a cômoda que mais tem a falar sobre a morte. Pronto. E todos sentaram para jantar. Não houve variação no cardápio. Sopa de tudo de ruim, batido no liquidificador. A mãe era a família inteira na mesa. Era por isso, que, às vezes, ela não podia ser mãe.

Foto: Tatiana Cardeal

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