22 de fev. de 2007

No túmulo do samba

Terça-feira de carnaval, noite nublada, uma rua atrás do cemitério. Em irreverência ao mestre Vinicius, não caberia outro cenário para aquele acontecimento. Reunidos na plenitude da rua, em frente ao palco armado, díficil precisar quantos, todos em seus sambas imprecisos, sedentos por uma São Paulo mais humana. A São Paulo oficial ainda tentou, nos seus tentáculos enferrujados, implicar dificuldades, mas a iniciativa persistiu, e fez-se um dos melhores carnavais de rua que essa cidade pôde presenciar. Vinicius, aqui é o túmulo do samba! Fazemos carnaval atrás do cemitério! Estás certo, Vinicius. Só não sabia ele que aqui o samba não morre no túmulo, renasce. E ele renasceu, ali na Rua Horácio Lane, reduto do ó do borogodó. Aos baianos e aos pernambucanos, aquela rua transbordando pessoas, talvez não venha a ser novidade, mas foram esses, de tantas cores, raças e estirpes ecônomicas, que sambaram, junto com os paulistas, maravilhados com essa nova possibilidade nessa terra, corpos grudados, suados, humanos, fogosos, falantes, irreverentes. Um jovem de camisa de time alvi-negro ainda tentou balbuciar qualquer tipo de desavença, ainda acostumado com outras aglomerações, mas foi rapidamente silenciado de uma maneira tal que ele nem hesitou em render-se ao ritmo instaurado ali. Nessa terça-feira de carnaval, São Paulo foi uma terra possível. E Fabiana Cozza, porta-voz da possibilidade. Entre uma música e outra, fui atentando e colhendo elogios inebriados para nossa Fabi. Com sua grandiosidade no palco, não há como desvencilhar-se do fardo: Fabiana é a rainha do samba paulistano. Fiz eco ao título efusivo, e só sai ileso quem ainda não presenciou sua voz, seu carisma, sua postura e sua alma emanando no palco. Xangô te ilumine, minha irmã querida.

O ano começou com o pé direito. E o esquerdo. E o direito. Assim, num samba.
Axé, São Paulo. Axé, Fabi. Saravá!

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