Como sair ileso? Esse país tão ostensivo e atordoado em seus vínculos tão inconsistentes, porém tão afetivos, singelos. Somos jovens, perdidos, desbocados, incoerentes, mas somos belos, dessa beleza delicada, o filme do João Jardim trata da delicadeza tonta da juventude, no Brasil, mas também universal ao adentrar na dificuldade cada vez mais opressiva de colocar-se ao mundo, de pertencê-lo, situar-se, encontrar-se. Meu choro acuado na sala de cinema, vendo a palavra, a literatura, a poesia, iluminando a vida de uma jovem gordinha no interior de Pernambuco. Essa "personagem" é de uma beleza tão arrebatadora, dentro do seu contexto áspero, que tira o fôlego. No filme, inevitável também refletir sobre a glória e a desgraça da profissão de professor, nesse país. E daí parte a navalha da minha memória, reunindo meus mestres, o gosto de lembrar-me neles. A professora na Montessori que indelicadamente se emocionou com minha redação. O professor de história no Drummond que batizou poeticamente a minha racionalidade, me fez crer na magia do aprender, a surpresa do conhecer. No Portinari, a professora de português que marcou com ferro e fogo a língua e a linguagem na minha vida e de quebra, me proporcionou o teatro e a poesia, os pilares da minha trajetória. E o professor de redação, que soube iluminar minhas brechas de simplicidade no meio da incoerência prolixa da adolescência. E até na faculdade, o professor de teologia que me aguçou a sensibilidade ao humano. E o charme da professora de mídia, que sem saber, me fez acreditar no que eu faço.
Sai do cinema maravilhado e profundamente triste. A jovem na periferia carioca que escrevia apenas quando estava triste. O choro burguês e lindo da jovem do alto de pinheiros com seus pequenos dilemas, pequenos e lindos. Uma demanda ao caos, tanta falta de oportunidade.
Nem a morte me emprega.
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