28 de ago. de 2007

adesivos

Queria inaugurar nessas linhas uma maneira de me repetir: os mesmos adesivos, mas com cores diferentes, para colar pelo corpo. Protegido pelas cores, já não importa para onde os adesivos indicam, quais são seus gritos de guerra, qual a liquidação do mês, não há nudez suportável, toda promoção será castigada. Falta-me corpo para mais adesivos. Aquele cuja cola leva consigo um pouco de seu desejo acolhido. No pátio, fui desvencido. Foi no bafo, figurinhas de cartões-de-visita estranham meu álbum. Estar completo é estar morto. Homens repetidos, quase não consigo trocar com ninguém, parece que todo mundo tem um machismo na sua coleção. Quero mais adesivos, e só isso tem razão de ser. Os de cores quentes, de muita cola, de muitos dizeres. Para que não seja preciso dizer mais nada, para sair na rua e todo assunto informal estar cravado - no elevador, no ônibus, no metrô, corromper a velha prosa sobre o tempo, o presidente decepcionante ou aleatoriedades infernais.
A pele é a memória do corpo, pura solidão essa grafia sinuosa dos poros, dizem envelhecer: a gravidade inscreve, o sol desenha, as cicatrizes reescrevem, a poluição rabisca. Busco minha boca, retomo-a entre o desejo e meu sexo, e te invado para ler cada vocábulo da tua pele.

O corpo é a língua do impossível.

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