12 de ago. de 2007

somos nós

"Diz-se literatura
É como esse tempo que mistura os olhos abertos e os olhos fechados
Diz-se dele: a infância"
Vicente Cecim, Armas submersas, Viagem a Andara, O Livro Invisível.


Um nariz diante do rosto. É seu sentimento que acolhe o cheiro. Estamos nos repetindo, gritava. Estamos nos repetindo mais uma vez, repetia o grito, mudava a altura do som. Talvez a única coisa que estava realmente se repetindo era sua insatisfação palavreada. Um acerto repetido é clichê, um erro repetido é ignorância. Estranho esse metódo: passam anos ensinando através da repetição, para depois amaldiçoá-la. Ela me emprestou seu nariz para cheirarmos juntos. Emprestou o sentimento do nariz. Um grito, a tensão, a delicadeza quase não tem cheiro. Quando não se sabe, mais se fala. Quando se sente, há oportunidades para o silêncio. O silêncio é um sentimento da palavra. Atravesso o que sou para estar cansado de mim ao te encontrar. Na brincadeira de ir e devir, sou um tropeço da originalidade, um âpendice da inovação. Repito meu corpo e ele sempre me surpreende no desejo por ela. O cheiro do teu carinho. Sofro um erro, que é o mesmo, diferente. Até minha dor é criativa.

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