O lugar mais perigoso de São Paulo pra mim é ao telefone com minha avó. Sobre seus olhos, intermediados na sua voz imperativa e baiana, me divirto com todo o perigo que a cidade possui resumido em suas preocupações, receios, alertas, pedidos para Senhor do Bomfim me proteger. Em agosto completo seis anos em São Paulo, e quase oito que sai de Salvador. Mas seu discurso ao telefone é o mesmo, nem mesmo se preocupa em atualizar desgraças nas notícias do jornal. Através do receio dela é que percebo o perigo de São Paulo. Não há palavra minha que amenize. Poderia lhe dizer que os perigos que me amedrontam realmente estão em qualquer lugar. Medo, mesmo, tenho do que faço ou deixo de fazer com minha vida. E são os momentos mais intensos: quando viver vira orquestrar seus próprios medos. Uma sinfonia estranha com um solo de coragem no piano, ao final.
Ás vezes penso em sair de São Paulo. No Brasil não me imagino hoje morando em nenhum outro lugar. Logo vejo que antes de sair de São Paulo, preciso aprender a sair de mim. A ir embora de mim. A pé de preferência. Quando esse dia chegar, o título desse blog perde o sentido, e a vida dará sua cambalhota triunfante.
Medo.
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