29 de abr. de 2009

O segredo do goleiro

45 minutos. Segundo tempo.
O melhor é não pensar em quanto tempo de acréscimo teremos. Para quem está em campo, isso não importa mais. É preciso apenas um gol. O desespero é latente em todos os rostos. O problema do desespero é que ele não te leva a lugar nenhum. Dificilmente uma atitude tomada em pleno desespero vai te ajudar. Foi nesse momento que ele lembrou. Era o goleiro. O time inteiro dividido entre o pânico e o desespero. Escanteio. Lá do outro lado do campo. O goleiro respirou fundo, fechou os olhos, e quando abriu já estava na outra metade do campo. Acreditando que o goleiro estava sendo movido pelo mais completo desespero, metade do time encarou aquilo como uma confissão de falência, e a outra metade tentou tirar motivação daquela cena, mas estavam desesperados demais para qualquer movimento sadio. O goleiro sabia que era o único com condições de ressignificar o desespero e partir pra frente. E fez. Mas obviamente isso não era suficiente, não existem milagres e ao contrário do que ele ouvia no programa da Xuxa quando criança, não basta querer muito alguma coisa. Você precisa ter um plano pra conseguir. Uma estratégia. Inventar um jeito. Motivação sozinha é como desespero: não te move pra frente, só de um lado pro outro.
O goleiro olhou bem firme para seu companheiro que estava prestes a bater o escanteio. E fez um gesto com a mão como quem diz: "sou eu quem está aqui". Ninguém mais entenderia. Mas ele entendeu. Ajeitou novamente a bola. A estratégia do goleiro era simples mas era o melhor aliado que sua sorte poderia ter. Ele deu o primeiro passo dentro da área adversária pensando não como mais um jogador. Mais um atacante atônito e desesperado do seu time. Esses caras tiveram tempo suficiente para fazer um gol. E não conseguiram. Ele não podia agir como um atacante ordinário. Naquela área repleta de zagueiros suados e nervosos, ele precisava de algo inusitado. Ele precisava pensar como um goleiro. Nisso, ele tinha bastante experiência. O goleiro adversário olhou para ele de uma maneira estranha. Todos os zagueiros adversários pareciam zombar do goleiro querendo fazer o gol. Apenas o goleiro adversário teve aquele péssimo pressentimento, como se reconhecesse ali um profundo conhecedor de todas as suas fraquezas.

O escanteio foi batido. Não vou descrever o lance, porque sou um péssimo narrador esportivo.

O goleiro pensou e agiu como um goleiro. E fez o gol. Num lance rápido, o juiz não percebeu mas o gol teve uma leve ajuda da mão esquerda. Não sei se era de Deus, como naquele gol do Maradona. Mas o fato é que o gol foi validado. E não existe injustiça no futebol, apesar de todo o rebanho de lamentações. Existem paixões e um resultado.

O goleiro fez o que somente ele poderia ter feito. E fez a diferença.

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