19 de mai. de 2005

Aproximando estranhezas

Ela all star cano longo camisa com rasgo pertinente e maquiagem ineficaz nos olhos. Ele havaianas gastas óculos da ex-mulher miopia da última paixão camisa laranja. Padaria coffe-shop livraria reduto intelectualóide ambulatório de ilusões 24h ali na Haddock Lobo, isso é São Paulo, isso é perto da Avenida Paulista, isso bem que poderia não existir, ou vender acarajés. No check-list do vanguardista de carro-forte arte sem valor há personagens, há cenário, falta-nos a história. Descrição sucinta e socio-vaginal da personagem feminina: Não consegue ter orgasmo quando transa com amor, nem mesmo com paixão. Sinopse secreção publicitária da personagem masculina: Sobreviveu ao descaso, ao desespero, a descrença e ao desamor. Está morrendo de desgosto. Não se conhecem mas sentam na mesma mesa. Um sujeito de branco pergunta o quê vão querer. Ela. Ele. Responderam. O de branco ri e sai. Quando decidirem algo que está no cardápio, me chamem. Ela inteligência irônica ainda esboçou escrever o nome do anônimo com uma setinha apontando, no cardápio. Desistiu, piada infâme, era o primeiro encontro. Conheceram-se no Orkut. About me: Para bom entededor, a palavra não basta. Ele. Sports: Tentativas incompetentes de suícidio e abnominais dominicais. Ela. A mão nervosa, ela não sabia se queria um amor ou um orgasmo. A noite pedia sexo. Pensou em amá-lo depois. Não dava. Ele tinha desistido do amor em 1983 e desistido de desistir do amor em 2003. Você acredita nessas coisas de internet? Ela não responde, desconversa, impaciente. O sujeito de branco volta, o pedido está sendo feito. Não se fazem mais paixões como na década de 70, puxou assunto. O assunto estava morto. Um café sem açucar. Ele levanta e deixa o rastro da suas havaianas gastas compondo a cena, o charme, o jovem de barbinha mal-feita cheio de boas frases sobre essas coisas do mundo. O sujeito de branco presencia Ela, metade apaixonada, metade enlouquecida de raiva, tinha sido abandonada. O sujeito de branco senta-se na mesa. Um olhar eficaz, ele sabe colher brechas de mocinhas abandonadas. Oferece colocar um pouco de conhaque no café. [...]

Poucos dias depois, na esquina da Haddock Lobo com alguma alameda nos jardins, o sujeito de branco espera. O homem das havaianas chega. Um repasse misterioso de dinheiro. Entrega os óculos e um punhado de papéis que ele tinha levado para decorar. Deu tudo certo? Sim, sim.

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